Desejo inesperado...
Ah, verdes folhas, que pousam no espaldar da minha janela e se balançam de leve a seduzirem o vento que vem do mar – esse amante milenar que leva e traz contentamentos e desgostos - como gostaria de ser a árvore que lhes trouxe a vida! Jubilosa matrona de mil braços que cingem o ar, aspiram a luz do Sol, apoiam-se na amplidão e ao anoitecer acalentam os pássaros que lhe fazem ninho. Queria ser essa filósofa presa a raízes livres que circundam o pensamento telúrico da Natureza e cuja voz é oxigênio que se projeta na Eternidade. Queria respirar através dos veios de Esperança que percorrem esse tronco protetor. Artérias de seiva maternal... Por um segundo apenas, por somente um segundo, queria ostentar a Sabedoria que brinca de esconde-esconde com a Humanidade - essa anfitriã confusa que tantas vezes peca e vocifera o desamor. Ah, verdes folhas, por que esse desabrigo tamanho e para que tanto mistério, tanta desgraça, tanto choro e tanta Morte que afoga a Vida em cada esquina? Em meio a esse desatino, como usufruir o ouro do pensamento que voa?
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2020 – 18h32
Foto: Fantasia. Ácrílica sobre tela - Sílvia Mota, 1990