O fim da dor de uma dor sem fim
Tudo o que eu mais quero é conseguir explicar o que restou daquela chama ardente, com palavras tão gélidas quanto o vazio que me preenche
Revolvi esse assunto pendente no coração que a mim é desconhecido, como quem em vão procura as cinzas de uma ilusão eterna que desvanece aos poucos
Busco a serenidade de uma fogueira pela manhã, depois que as noites dos quintais sem desencantos foram por ela iluminadas
Hoje quero sentir a intensidade da fuga de tudo o que é intenso e tenso, e a dor pacífica de um dia comum
Já não quero me perder nas brechas do que poderia ter sido e não foi
só quero a paz que corrói os agraciados pela monotonia da solitude
e descarregar o coração sofrido de toda angústia em regurgitações febris mas passageiras
de toda palavra contida e sopro recluso nos vestígios da poeira que insiste em sujar
os dias e as estações em que vejo a silhueta do pranto no semblante alegre
já é tempo de deixar ir e deixar-se ir em aventuras sem o esforço da sobrecarga
que atravessa a dimensão do corpo e se abriga na alma de quem não é completo a si
já é hora de esquecer que o tempo se perde, pois é em seu norte que desembocam as lembranças
e nos mares do sul se afogam as esperanças que o fim afugentou das boas terras
que seguem férteis sem temer o destino que a bússola da vida aponta
que cantam um amanhã sem dores, sem apegos e sem moléstias incontroláveis
que abrigam o saudoso retrato breve do inexplicável em segundos de eternidade
e que despontam um arco-íris no fundo de toda lágrima luzidia em primeiros de amor.