O fim da dor de uma dor sem fim

Tudo o que eu mais quero é conseguir explicar o que restou daquela chama ardente, com palavras tão gélidas quanto o vazio que me preenche

Revolvi esse assunto pendente no coração que a mim é desconhecido, como quem em vão procura as cinzas de uma ilusão eterna que desvanece aos poucos

Busco a serenidade de uma fogueira pela manhã, depois que as noites dos quintais sem desencantos foram por ela iluminadas

Hoje quero sentir a intensidade da fuga de tudo o que é intenso e tenso, e a dor pacífica de um dia comum

Já não quero me perder nas brechas do que poderia ter sido e não foi

só quero a paz que corrói os agraciados pela monotonia da solitude

e descarregar o coração sofrido de toda angústia em regurgitações febris mas passageiras

de toda palavra contida e sopro recluso nos vestígios da poeira que insiste em sujar

os dias e as estações em que vejo a silhueta do pranto no semblante alegre

já é tempo de deixar ir e deixar-se ir em aventuras sem o esforço da sobrecarga

que atravessa a dimensão do corpo e se abriga na alma de quem não é completo a si

já é hora de esquecer que o tempo se perde, pois é em seu norte que desembocam as lembranças

e nos mares do sul se afogam as esperanças que o fim afugentou das boas terras

que seguem férteis sem temer o destino que a bússola da vida aponta

que cantam um amanhã sem dores, sem apegos e sem moléstias incontroláveis

que abrigam o saudoso retrato breve do inexplicável em segundos de eternidade

e que despontam um arco-íris no fundo de toda lágrima luzidia em primeiros de amor.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 27/10/2020
Reeditado em 27/10/2020
Código do texto: T7097746
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.