Na contramão do mundo
É na contramão do mundo que dou meu pontapé na vida
enterrando as convenções e tudo que a orbita
faço na realidade e no sonho, um favor àqueles que conhecem a fatalidade
de tudo que é reto e milimetricamente encaixado
no sistema hermético que encadeia a morte prematura do pobre alienado
Enquanto a pressa ganha as massas, e desatina rotinas destinadas ao trabalho árduo
estou seguro na calmaria viva de uma maré redentora da escrita
vagando pelo mar vago de vagas literárias
no contraste dolor e incolor de um mundo árido que não dispõe de tempo para contemplações
não me recordo do dia em que pertencia à manada trágica do cortejo fúnebre da existência
que não sabe de onde veio nem para onde vai. Não julgo, pois sei menos ainda
mas ainda estou em vantagem: sei o suficiente para dizer que pouco sei dos mistérios
por eles negligenciados, e por mim, afoitos para serem desvendados
Para eles, já é inútil imaginar mundos e dar voz aos medos e astúcias
olham-se no espelho, sem nada ver além de uma superfície refletora ou um narciso repressor
aos poucos vão desconhecendo o que alma pede e o que o coração precisa, isso se já não tiverem sido suprimidos
desaprendendo o desabrochar descompassado do deserto desejoso
visto como desajeitado por aqueles que não encontraram o âmago da vida nas artes cruciais ou na eternidade da folha em branco aberta no seu latifúndio de visão
Enquanto os poucos que restam, escrevem poemas de herança estética e formas perfeitas
me refugio na imperfeição dos dias e das noites, naquela que sempre me inspira
a não me acorrentar àquilo que me salva da desventura de um viver cheio, mas vazio