AMANHÃ, UM DIA A MENOS...

Quando em Minas,

incomodava-me

estar entre os animais.

Nunca ter ido além do esterco

e dos cogumelos.

Bosta de vaca virava rocha,

pra quebrar a cara

se houvesse queda.

Havia o pressentir,

um intuir um estouro

Num campo de quietos touros

vendaval sem arrancar o tédio.

Em cada úbere o mais puro leite,

em cada balde, o vazio que espreita,

ninguém para desleiterar os úberes

Vindos de bocas famintas

de palavras e de tudo.

Deixei o leite em garrafas,

Ceei doses de cachaça de Salinas

e desabei...

Arreio armado nas costas, e fui...

Fazendo rastros na estrada,

o que queria de Minas,

era estilhaçar cristais,

desenterrar turmalinas.

Para os anéis das meninas,

para os anéis de além-mar.

E assim, foram criar raízes

nos dedos das meretrizes

que prometeram me amar.

Depois, se foram meus ouros

e todas as pratas que eu tinha.

E guardado a sete chaves

só me restou a saudade

que insiste em infiltrar-se

Pelos poros, inspirando

esse poema mineral

que fui buscar lá nas Gerais.

Sofro da peste, a que mata até animais

por saberem, não voltar jamais.

Da experiência, nada de cabedal

de conteúdo, apenas um dedal.

O meu conforto, a roupa do corpo.

O pé no chão; a cabeça ainda não.

Ainda não...

( Lá em baixo corre o "velho chico", e tudo existe...)

Tácito

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 02/08/2020
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