CRUEL MODERNIDADE
Modernidade, ah modernidade
Por que fizeste isso comigo?
A mim, que tanto confiei em ti
Eu que um dia acreditei
que as pílulas tirariam todas as dores
Que o conhecimento nos traria alegria
E que a mídia
Abriria os nossos olhos
Eu que presumi
Que ser globalizado nos faria vizinhos
Do habitante mais distante
E que a evolução
Sanaria a pobreza
E a fome.
Eu acreditei em você, modernidade
Na cura de todas as doenças
No nascimento das crianças índigo
Na substituição dos males pelo esclarecimento
E que você sanaria tudo por aqui
Eu realmente julguei
Que o fim da crueldade estava selado
E que os países não deixariam mais
Genocídios acontecerem
E que seriamos guardiões dos vulneráveis
E que o amor estaria nas redes
E tudo seria melhor
E mais bonito,
E mais justo
As coisas se repetem
Nada evoluiu
Os índios ainda não irão reaver suas terras
Porque a máquina comeu tudo
Freneticamente
Em nome da propriedade
E a ciência ainda não provou
No coração dos homens
Que não somos diferentes
Estamos mais doentes do que um dia fomos
E mais tristes,
E gordos.
Ai de nós! Ai de nós!
A solidão nos atormenta
O medo nos atormenta
Livrai-nos do mal
Livrai-nos do mal!
Você é cruel, modernidade
Não poupa a ninguém
Mulheres e homens,
crianças e velhos
A todos nos tirou os sonhos
todos são reféns da sua terrível ambição
Desprezo e egoísmo
Que saem da sua boca metálica.