EU PRECISO DE ASAS

Eu preciso de asas

Sei do grande castigo,
Que a Terra me deu,
Pois já tive escamas,
Ou até barbatanas,
Quando o mar me perdeu.

Só que o mar vomitou,
Pois somente nadar,
Ou saltar sobre as águas,
E respirar como algas,
Não mede o que sou.

E se nessa descarga,
Que o tempo mandou,
Veio algo a mais,
Bem além de Alcatraz,
Se detento ainda estou.

Prisioneiro sem brisa,
Mas curando a ferida,
Que a vida deixou,
Quando salto do mar,
Sem ter nem parabrisa.
Eu procuro me achar,
Como um carro na pista,
Num escorrego que risca,
Num asfalto sem rumo,
Sem vetor e nem prumo,
Só me vendo a sonhar,
No meu verter e amar,
Se do mar, sem saber,
Herdei um lar para lutar,
Para viver, para encontrar,
Para riscar e escrever,
Se ao poetizar sou sofrer,
Por saber não saber,
E o querer tanto ser,
Já que ter já não serve,
Quando enxergo ser breve,
A luz que nos persegue,
Até no entardecer.

Então preciso de asas,
Para entrar pelas casas,
Ou olhar as montanhas.

Pois não bastam estradas,
Ou vias rabiscadas,
Em papéis sobre a lama.

Pois as estrelas me chamam,
Se os dragões já reclamam,
Se já sabem a trama.

Que nos leva no vento,
Sendo a paz ou tormento,
Que nos tira da cama.

🕊️🦆🦢

Publicada no Facebook em 17/03/2020