SOMBRAS TACITURNAS
I
Desde então, lembro de você
Como uma confusão de imagens
Que alimenta a minha solidão.
Te escrevo
Palavra e mulher
querendo tua presença
somando meus espaços noturnos
Te deixarei a herança
Do meu tímido silêncio
Guardada num cofre de vidro.
Frágil, me quebro na emoção
De tuas lembranças
Enquanto me guardo,
Kami-Kase, no salto
Do meu próprio abismo.
Ainda nos unimos separadamente
Unos que somos em nossos corpos
Te recrio, me duplico,
me revejo e antevejo
O gôzo, o pleno, o belo
Nossa comunhão interna,
Eterna e fugaz
II
Perdi, por mãos cruéis do meu destino
Minha estrêla feliz, meu puro enlêvo!
Penso que a Deus muito devo.
Para me castigar assim, fundo e fino...
Era tudo que tinha. Como menino
a quem se tira o único brinquedo
a poder de vinganças e de mêdo
Fizeram-me outra vez pequenino.
Era meu céu, meu firmamento
agora, nem lhe falar eu tento
vou vivendo esse pesadelo.
Creio que o bem e o mal que fiz na vida
irá servir de ponto de partida
Para reaver o meu sonho ou perdê-lo...
III
Aos meus filhos não nascidos, o legado
Que lhes deixo é não vir,
vencer a dor, e o castigo, ficando
Para o de lívidos,
Sórdidos,
Tórpidos,
Infames,
E até doces
Declínios...
Não cometi delitos
E pagarei estóico o crime de outro.
Contente por saber que
Contra a dor ergui-me firme
Sem ferir ninguém,
Apesar do ódio sobrevivi...
O que seria se pudesse
amá-la agora?
A tristeza que senti, decerto
Iria embora...
Deixe que eu fique triste
E que tu ausente
seja meu sonho que me foi tirado
E que uma nuvem de mágoa em meu mundo
Chova seu toró desesperado.
Continuas impune homenzinho!
Pior para ti, pois acabaste com a vida antes de morrer.
E assim, já não podes morrer descerás vivo ao inferno.
T@CITO/XANADU