TOBIAS OR NOT TOBIAS

Gostaria de ser desses homens

Que reclamam do mundo

Em diversos idiomas

E quando acendem as luzes

Voltam para casa cansados

Como se precisassem morrer

Por um cano de idéias.

Ou como o outro

Que pescava

Para alimentar

Nove filhos

E tinha do lado direito

Do peito, apenas

Meio coração

A outra metade foi trocada

Por um molinete

Made in China.

Desses que sonham

Com namoradas

Que nunca teve

Regam flores de cetim

Ouvindo tangos de veludo

Cerram as cortinas da alma

Com mentiras hediondas.

De si mesmos são Caim

E, enforcam-se

No nó cego do orgulho

Renitente.

Poderia ser também

Aquele pastor da igreja

Ficou rico de repente

Bem nutrido

Bem falante

Por preços módicos

Salva a alma das gentes

Lê a palavra Irmãos

De acôrdo com sua versão.

Essa palavra

É arma de morte

Com que hei de me viver.

Ai de ti, ai de ti, ai de quem?

Do peito que estertora

E assume

Esse monte de estrume

No estalo do delíquio

Universal.

Ou como aqueles que:

Passam, tais e quais

Figurinhas carimbadas

Na rota do destino

Andam pela vida

Feitos sonâmbulos

À não procurar.

Tarde de mais

Para voltar atrás:

Cansados como pássaros

Que migram

Exilam-se da vida.

Mas, nunca serei

Nenhum deles.

Toco esse corpo

Que é meu

Um ao outro nos confortamos.

Recuso os muros!

Nada de janelas

Determinando o ar

Que entra.

Recuso os tetos!

Nada de concreto

Ocultando-me o sol

E as estrêlas.

Recuso as normas!

Nada de intelectualismos

Anestesiando a sabedoria inerente.

Recuso!

Os papas

Os poderes

Os sábios pensadores

Que pretendem

Encerrar a vida

No volume de seus escritos

Arbítrios, signos e decretos

De desígnios secretos.

Fico sendo eu mesmo

Por detrás dos castelos

De areia, palmilhando

Minhas próprias pegadas

De animal estranho.

Com um forte odor

De sentimento

E com a teimosia

No querer ser POETA.

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 05/05/2020
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