°"O MEU CHAPÉU SOMBREIA O LUAR DE MINHA ANGÚSTIA"°

°"O MEU CHAPÉU SOMBREIA O LUAR DE MINHA ANGÚSTIA"°

Sobre os telhados de um morro de cascalho,
Escorre o brilho do luar em minha mente,
Mas uso o meu chapéu de abas retorcidas,
Tão parecidas com o que penso de repente.

Então eu sinto a lança aguda de São Jorge,
Seria Oxóssi ou mesmo Ogum aqui presentes,
Num turbilhão de pensamentos dolorosos,
Pois minha angústia vê a lua num repente.

E eu penso a vida como um canto recorrente,
Em que sofre o poeta por ter a mente reluzente,
Pelos clarões que a lua deixa em todas noites,
Como açoites que fazem o meu ranger de dentes.

E foi assim que deparei com lúgubres dias,
Sem melodias para saber se estou doente,
Pois vejo o couro que carrego no meu corpo,
Se esvair de modo nem tão comovente.

Seria eu mais um escárnio dessa vida,
Que tão bandida, me rouba até minhas sementes,
Pois dói a mente, pelos meus entes queridos,
Se minha família vê meu colo tão doente.

Eu sofro mais do que um escravo em correntes,
Tendo as bragas a me impedir de ir em frente,
Nem mesmo posso ver meus filhos todo dia,
Se arde a brasa de quem me mata com os dentes,
Que rangem inveja e todo ardil de uma mentira,
Que só por ira de alguns, eu morro lentamente.

Mas rezo a Deus, que me dê forças para a luta,
Pois na labuta foi que ganhei meus inimigos,
Fingindo serem meus amigos de infortúnio,
Me sinto um César, apunhalado nos seus sonhos.

Vendo o Senado como palco de um réquiem,
Era Mozart e seu algoz, um Salieri,
Rasgando a alma, enquanto tocava meu piano,
Eu vi os panos ensanguentados, em minha frente.

Era o teclado impregnado de meu sangue,
Como um mangue guarda o cerne de muitas vidas,
Mas sei que ali esvaem os dias do meu pranto,
Que canto triste, como um sabiá sem festa.

Nos fios da barba em que escondo minha angústia,
Estão rios de lágrimas, que choro todos os dias,
Pois em minha baía caberiam poços turvos,
Guardando a dor das lanças que ferem o meu peito.

Pelos sujeitos que torturam um ser tão delirante,
O meu semblante só reluz o desespero,
Como se as vespas ferroassem o meu lombo,
Eu tombo moribundo diante do espelho.

E aquele frágil homem diante de um exército,
Dos inimigos de quem abraça um pobre povo,
Pede a Deus que mostre as trilhas do deserto,
Pois um oásis ele quer olhar de novo.

Pra seus camelos encher as bolsas com doce água,
Que lhe aguarda como um dileto consolo,
Em sombras perante o Sol que arde ao meio dia,
Serei meu Deus, seu mais correto penitente.

Plantando a paz que o homem busca ardentemente,
Eu sou semente que quer um mundo mais humano,
Vou sob palmeiras e sombreiros mexicanos,
Fazer os molhos para o degustar da vida.