Além do mar
Eu quis ter os pés no chão para me entregar nesse viver ao teu lado, mas os sonhos foram em vão quando teu beijo veio acompanhado com discretos deletérios. Hoje eu sou um vilão covarde que temeu o futuro, mas depois de eu sentir a culpa que você me afligiu percebi que dei o que eu tinha. Não sou e nunca serei responsável pelas expectativas de ninguém e desde sempre pude entender que não se chega ao futuro sem antes aprender a lidar com o presente.
Agora estou só e quando não dói percebo que sou completo sozinho. A dois me anulo e esqueço quem sou. Por vários dias eu sangrei a minha morte que você causou dentro de si e agora após todo o sofrimento posso então navegar nas lágrimas que pus a chorar.
Desafogo o meu peito nas tristezas lamentadas e agora posso sorrir o que o presente me reserva. Com os olhos no amanhã não se chega ao infinito, mas na leveza do hoje podemos ser eternos. Segurastes meu peito pela última vez quando me acusou de temer querer crescer ao teu lado, mas eu agora te acuso de não ter respeitado o meu tempo.
Surgiu com novas faces de uma miséria decadente e me pôs como estandarte da tua carnívora dança.
Eu tive os maiores pesadelos por tua ausência e nos sonhos te prometi muitos amores. Ao acordar lamentei as dores trazidas com as lembranças perversas de um amor que foi atirado à fossa. Sinto saudade do teu corpo e da tua voz às vezes, mas lembro que depois de eu cuidar de alguns dos teus ferimentos você atirou no meu rosto cínico o quanto tivestes que cuidar dos meus machucados.
Eu nunca prometi amor eterno, mas meu amor foi infinito enquanto eu estive vivo dentro de ti. Hoje são memórias que mais me parecem sonhos. Vou seguir a minha vida da minha maneira sendo o melhor que posso para mim e para todos que quiserem a minha companhia. Estou deixando as portas do meu peito abertas para quem quiser entrar, mas o primeiro a querer desgraçar minha sanidade e o que se atrever a querer extirpar minha insanidade será expulso, expelido, catapultado de dentro de mim como um desprezível verme parasitário que sem permissão nos suga por completo.
É assim que abandono o barco, o oceano, a tempestade e os portos. Agora eu voo além do mar.