Verborrágico

Rasgo o que leio,

o que ouço, esqueço.

no ar tão concreto

nem respiro.

Mil vezes enlouqueço.

Nem me deito.

Morro, expiro.

Rasgo o verbo

no papel incerto

que o vento leva,

mas não lufa.

Apenas leva

na onda.

Rasgo o verbo

na tela líquida

que a luz revela,

mas não brilha.

Só circuita

e conecta.

Verborrágica onda

que me leva

aonde quero ir

e muito que traz

não desejo ter.

Deleto-lhes.

E tudo sonda

desde o verbo

até a inércia.

Como a reação

à inanição

é a morte;

a transgressão

está para fome.

Não há sorte.

O pai idiota

hábil em abandonar

seus filhos

choram.

O patriota

sonha sangrar

pela nação.

Seus irmãos

o temem.

A lei do mais forte,

mais hábil, mais veloz,

mais loquaz no verbo.

E tudo vale um porte

que lhe garanta voz

que iluda eterno.