Decerto o nada. De nada, deserto

Esse mar de areia, poeira e mudo mistério envolto por um vazio estridente, foi tudo e ao mesmo tempo, nada do que sobrou das lágrimas salgadas um dia navegáveis e abundantes. Sua sabedoria em um ramalhete piramidal, a maior de todas as preciosidades, sempre esteve enterrada sob um universo de grãos de areia, à espera de um coração que guia o homem que o tem e o escuta.

O vento traz as dores e silvos de cantos distantes, agora unidos pelo sopro que ecoa o lamento das caravanas, a profecia cigana e as lamúrias das mulheres desérticas. Ele é a força que tudo leva e modifica, a certeza única e ressonante de que tudo o que se ergue, um dia sente falta de cair. Suas dunas e ribanceiras desenhadas pelo hálito cálido, ensinam que nada é eterno e imutável, mas tudo preserva sua essência e reverbera suas origens nos montes mais longínquos.

Adiante, o frescor das tamareiras esparsas alivia a aridez pungente, anunciando os primeiros sinais de um paraíso fértil rodeado pelo assombroso imenso de um dia visceral e de uma noite gélida, que adormece sob o brilho selênico e cintila um céu estrelado que ilumina o horizonte perdido de todos aqueles que buscam reencontrar sua alma na plenitude e no silêncio do deserto de suas vidas.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 24/02/2020
Reeditado em 31/10/2021
Código do texto: T6873080
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