Tacitúrnia

Será lido em menos de mil minutos

acentos, pausas, pontos e ações

que nos consomem milhões de segundos.

Testo a coesão de seu texto

com o meu refrão que retumba

e gira e volta em todas as versões.

Perco-me não sendo o que nasci

ou mergulho na transformação

da qual faço parte, parcela no mundo.

Puxo esse duplo pelo pulso

com o meu bordão que resulta

em algumas sílabas ou palavrão.

Esse mundo, parcela que sou

e falta-me muito a completar,

talvez alguns seres em bilhões.

Pobres destruindo tudo que são.

Se não são autômatos sonambular,

Senão, são autômatos a sacrificar.

Sou o abastado de posses no topo.

Visado a fazer; exigido a conquistar;

Fadado a sofrer e não posso falhar.

No fim, todos querem um pouco de mim.

Parcela avançada de um mundo sem fim;

elo perdido a se devorar em meio ao todo.

Que me silencia, esse mundo que flui

e que só não sei o quanto lhe sou

porque de dentro não vejo. Só doo.

Que me toma a tristeza que me intui,

que só não fujo por não ser o preso,

mas do meu desejo cativo, o peso

de ainda ser uma parcela desse mundo.