DIA IV
Não contei o tempo; Seria crueldade comigo mesma.
Estou sentada no sofá na sala de estar vazia, no auge da sexta-feira. Estou com saudade dela ou só deprimida porque não sai de casa?
Ela saiu?
Ela está bem? Vai chegar tarde?
Deixa pra lá. Que direito tenho eu de me preocupar?
É saudade.
Demora muito pra superar um luto desses. Imaginei que ficaria descontrolada.
É essa calmaria que me deixa insana.
Cadê a tempestade? A maré está tranquila demais.
Doí agora, mas tenho medo de que isso não seja tudo. Pode ser que eu tenha feito uma outra grande cagada.
Acontece o tempo todo.
Será que consigo ser feliz mais rápido?
Queria sentir aquela onda de alívio, que cobre o corpo todo, de quando você sabe que superou. Que é grata por tudo. Que é madura o bastante pra dizer: eu fui tão feliz!
Não é agora.
Não com a música alta ridícula dos anos 80 do seu vizinho que te lembra das festas que vocês iam.
Não com o clima agradável o bastante para tomar um sorvete na rua enquanto caminha de mãos dadas, tão tarde que fica perigoso demais para voltar para casa.
É tudo tão especifico agora.
Tão claro.
Em algum momento, essas memórias vão ficar embaçadas, e eu sei disso. Por isso, é melhor mergulhar nelas enquanto ainda sou capaz de ver tudo tão claramente.
E é isso o que eu vou fazer hoje.