Um escritor nunca é capaz de escrever verdadeiramente sobre si mesmo.
É tão acostumado a escrever sobre outras pessoas, outras histórias e outras vidas, que se perde e acaba fantasiando sobre si mesmo.
Um escritor nunca é verdadeiro sobre si mesmo. Ele nunca deixa transparente a sua dor, a sua felicidade, a sua tristeza e muito menos a sua capacidade de amar. Ele é um grande número de páginas rabiscadas, reescritas e talvez um dia publicadas, mas nunca legível. Nunca decifrável e muito menos fácil de entender.
Um escritor não diz coisas só por dizer. Ele pensa, imagina. Rebusca e cria. Só então ele diz. Porque palavras não podem ser em excesso, e nem podem faltar.
Um escritor não é um ser humano real. Ele é tudo e nada. Ele vivência e observa, mas nunca sem entrar em um contexto.
Nós escritores não existimos. Apenas transmitimos uma vivência que não é nossa para outras pessoas. Passamos ideias, pensamentos e reflexões que não são nossas. Apenas existimos para que outros possam existir.
Alice Mawdrell.
Nunca quis ser esquecido. Meu corpo pode padecer e minha alma se corroer, mas eu serei preservado em memórias.
Não existe nada mais marcante do que a dor, e a lembrança do primeiro amor de uma mulher. Eu sei disso melhor do que qualquer um a quem se for perguntar.
Não há orgulho quando se deixa uma ferida. Mas nada tenho nesse vasto mundo além de memórias, guardadas dentro da alma delas, memórias que nunca serão esquecidas.
E eu me afogo, cada vez mais. Eu as devoro cada vez mais enquanto posso.
Elas são a minha vida. Mas eu não sou a vida delas.
A solidão? Já cansei de me preocupar. É mais desesperador pensar que um dia nada restará de mim.
Tenho a certeza apenas de que nunca irei morrer. Não completamente.
Eu serei imortal.
HETERÔNIMO: Adrian Borges.