A  Morena da eira e das vinhas
             
         
E se afastou de toda a vida,e choveu na poesia!
Teceu palha pra cigarro e fumo, e acendeu fogão à lenha;
Os olhos dela de mulher-rendeira,perfurava o dia;
E se devorou na eira de grão de trigo e arroz! E café!!

E se afastou de toda a vida,e perdeu pomar de cajus e romãns;
Ajuntou saia de cambraia e sangrou nos pés uvas e amores vis!
E se afastou dela toda a vida e chorou pelo verso deixado,subnutrido!
Se aquietou alma e quiz ficar; O rio arrendava todo o plantio,
Era tempo de cheia e afastada de toda a vida, sangrou uvas e as pedras!!

E choveu no verso e molhou caneta-nanquim,esbarrou no tempo,
E resolveu arrancar ervas daninhas da eira,e colheu-se de si mesmo!
E se afastou toda a vida,penhorou jóia de família e comprou canoa;
Era de jacarandá e remo outro,de aroeira, se deu a experimentar!!

E se colheu a vida,arrancou cipó das vinhas e eira e contratou moço;
Quiz esquecer partida de caboclo e doou rede em que ele dormia;
Parecia insana e moço só olhava,e concertou monjolo e tábua de bater
Roupa e lençóis e roupas íntimas e de trabalho de carpir,eira e  vinhas;
Moça rendeira carpia chão pra semente de grãos e céu de azul-marinho!!

E afastada da vida,quiz,tempo depois um tinto e meio trago de absinto;
Fez roda de samba,com pandeiro e cuica,chamou moças da vila a dançar;
E sem medo de ficar,e sem medo de dançar e sorrir,carpiu dor,e sorriu;
E choveu no verso e na poesia,mas nas razões suas de ser eterna;
E trouxe algo nos traços,e nunca mais se lembrou do cabloco,que partiu!!

Sendo assim,dentro em pouco,seus lençóis de algodão e cambraia,cetins,
Eram mais leves,e deixa correntinha de santo e alguns sonetos  todos
No criado-mudo ao lado da cama de cedro,e na sala o aparador de antes ,
Somente um passo de dança e seus desafetos,verso molhado ,esquecido,
Quis entender que existir tem apreço;Eira e vinhedos, moço cuidava!!

E se afastou toda a dor,caboclo soube notícias chorar no estaleiro;
Eram agora mais leves as manhãs,o que é de sustento trabalha os vinhais,
As eiras do grão de trigo fez cabocla,pão de centeio,e pão sovado,
Eram mais leves as noitas todas em mim,e com elegância de trato,
Registrei-me de Maria Morena de eira,cumpri um último desafeto;
Nunca tive nome de nascimento,e dentro em pouco,de espanto,calei!
Na possibilidade de amar,moço de contrato de vinhas e eiras se enamorou;

Fiz outra roda de samba,cuica e pandeiro,e violão de doze cordas!!
Se ser intenso,é ordem de pasto,sou de nascimento,Maria Morena de eira;
Se passei de senzalas,e alforrias,me perdoe o distrato,sou cabloca,
De quem leva nas mãos todos s sentidos,e no bolso estrelas roubadas;
Sou Maria Morena de eira,registrada de nascimento,e Deus,mil fatos!!!





 
MaisaSilva
Enviado por MaisaSilva em 01/07/2019
Reeditado em 07/07/2019
Código do texto: T6685495
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