Bons Tempos!
Hoje, depois do almoço, cujo prato foi macarrão da mama com frango, reuni a família e ficamos um bom tempo entretidos revirando as páginas mortas dos álbuns de fotos.
Minha mulher era bem moça, vistosa e simples, como são as pétalas de flores. Em uma delas, ela aparece fazendo comida à beira do fogão à lenha.
Eu, na minha santa ingenuidade, lhe sorria. Se lembro-me bem desse dia, foi quando noticiamos aos nossos familiares e amigos a gravidez dela. Foi muito divertido.
Naquela época, eu usava cabelos compridos até os ombros. Deleitava quando ela desfiava os anéis com os dedos. Ficávamos horas e horas: conversando e ela, cofiando os cachos, pretos, pretos, pretos. A gente era cafona, como dizia antigamente.
Durante um período, também usei bigode. Na realidade, nunca fui afeito a bigode e cavanhaque; mas às vezes, deixava os dois. Era uma maneira de mudar a fisionomia.
Bons tempos àqueles que estão impregnados nas nossas memórias; e ao revisitá-los, é sempre um momento especial retornar ao passado.
Foram tão bons e importantes, que um fio de bigode tinha seu devido valor. Éramos religiosos de crença e fé; devotos inveterados de Santa Atitude e Palavras . Fio de bigode cruzado e palavra dada, ainda que sem a presença de testemunhas, sentença assinada. E rigorosamente, cumprida na data acordada pelos fios de bigode.
Atualmente, o sentimento que tenho sobre essas passagens em nossas vidas, que éramos felizes, sinceros e honestos em família, e não sabíamos. Quanta saudades tenho de voltar ser, o que eu era! Honestidade é tudo; mas acompanhando à evolução humana, entendo que os tempos mudaram. Quem sou eu para ir ao contrário do caminho percorrido por todos. Caminhar em sentido contrário ao modernismo, é pedir para ser esmagado pela multidão de humanos.
Terminada a viagem no tempo, fomos para a cama, eu e minha esposa. Nossos filhos estão casados, morando no exterior e quando estão de férias, vêm nos visitar. Estamos felizes por ter os filhos, genros, noras e netos em nossa companhia, no dia hoje. Data memorável para se guardar nos arquivos vivos, como guardamos o nosso passado. Uma hora ou outra, esse dia servirá para contar a história do que nós fomos.
Por mais que sejamos atuais, ainda somos roupa velha, rota que, embora não nos caiba, tornou-nos novos e vistosos um dia.