O Outro
Até ontem éramos só nós dois.
Quando foi que a porta se abriu?
O outro veio num repente...
E de repente meus olhos viram,
Meu coração saltou no peito,
Minha respiração mudou,
Meu sono sumiu,
O sossego acabou...
Agora não há mais volta.
O que eu vi já foi visto,
O que eu senti já foi sentido.
O outro entrou sem pedir licença,
E sem saber que tinha entrado pela porta aberta.
Agora não importa mais quem abriu a porta,
Se foi a sua indiferença ou a minha sede de vida,
Agora temos que lidar com isso,
Ao mesmo tempo, mas cada um a seu modo,
Cada qual do seu lado.
Enquanto isso o outro vaga...
Nos salões dos meus pensamentos,
No vão de distância entre nós no leito,
No desvio do meu olhar,
Na nossa incapacidade de conversar.
O outro vaga...
Ele parecia tão real quando entrou pela porta,
Agora parece ser apenas ilusão.
Porém o que nos separa agora já não tem nada a ver com o outro,
Mas sim com a porta que ficou aberta,
E não há mais como fechar, não há mais como ignorar,
Que um de nós abriu a porta,
E com isto teremos de lidar.