A BEM SUCEDIDA MORTE

Dizem, e eu acredito, que a morte é branca, magra e gorda ao mesmo tempo, elegante, aristocrática; coberta com peles de pessoas e animais, cheirando a mil cadáveres, disfarçado por perfumes franceses. É por natureza, horrorosa. Em sua volta um coro de milhões de vozes, ressoando como um redemoinho: são gritos de dor e lamento dos que morreram e dos que ficaram, mas que são abafados pelo enorme barulho que fazem seus lacaios. A morte veio de caravela portuguesa ao Brasil, e aqui se instalou. Com seu poder de “persuasão” tornou-se herdeira de terras e de muito dinheiro, casou e teve filhos, os formou em medicina, direito, administração pública e privada; tornaram-se ricos proprietários de terras, profissionais liberais de sucesso, juízes acima da lei, sacerdotes sem Deus, e políticos de todos os tamanhos. Ela mesma fez carreira na política, ficou ainda mais rica, aplicou seu dinheiro na Vale do Rio Doce e em todas as privatizações, quadruplicou sua sorte. Por ser imortal, a morte ainda continua em sua carreira de sucessos, em 2019.