Deus de mim
Deus de mim
Dividido entre três mundos, alternando entre eles em questões de segundos. O neutro, o bem e o mal. O misticismo e a essência animal.
A mente é um deus, procura transcender. O corpo o animal que põe tudo a perder. Os erros se tornam essenciais para não nos perdermos nas nuvens. Nos peitos as dores de vidas insalubres.
Antes de dormir tomei chá com meus demônios, viramos amigos e conheci meus heterônimos. Viajei por terras desconhecidas, vi tudo em terceira pessoa em horas perdidas. Deixei meu corpo ser assumido por entidades, criei civilizações em minha mente e depois destruí cidades. Criei um universo na minha própria mente. Perdi-me no encanto da serpente. Procurei desbravar meu próprio lar, rachei-me os olhos de tanto chorar.
Escolhi dar ouvidos ao meu deus superior, enchi-me de amor e vivi melhor assim. Sou a divindade maior de mim. Nos encantos dos meus olhos escuros, desbravei os sentidos mais ocultos. Perdi o medo de vultos e monstros, de dores vis. Percebi que conectado ao universo eu era bem mais feliz.
Dominei meus animais interiores e vi que eram meros atores. Fragmentos da minha luz, ora o caminho que conduz, ora a dor que seduz. Fiz do inferno habitat. Fiz do céu meu altar. Saudei lembranças e sofrimentos. À flor da pele, todos os sentimentos.
Agradeci pelas feridas, valorizei outras vidas, respirei novos ares, conheci novos lares, fiz novo laços, senti novos abraços, comecei a me descobrir. Tudo começou quando me fiz deus de mim.
Abri os olhos na escuridão, fiz da dor o meu padrão, a felicidade bateu em minha porta, abriu a parte que se importa. Estou aberto para qualquer sentimento, sem arrependimento, de amor à dor, de alegria à rancor, porque na vida tudo que destrói também se reconstrói.