COMO NÁUFRAGO NUM DESERTO...

Nesse tempo de deserto

estive em muitos oásis

que me saciaram nessa

dura e longa passagem

Como náufrago num deserto

vejo ao longe uma linda cidade

a ansiedade aumenta

a sede e a forme atormenta

Tanto tempo sem alegria plena

minha alma sobrevoa

em pensamento aquela pessoa

que espera encontrar nessa aldeia

Tanto tempo se passou

tendo desvanecido a esperança

em oásis achava eu que sempre viveria

sem experimentar realmente

a doce e fremente loucura

Um amor doce e bom prometido

me lançou num deserto ressequido

um corvo vinha a dar-me pão e água

e uma voz dizia: Caminha, pois

longo é o teu caminho.

Tantos anos se passaram

que a esperança transformou-se

em resignação: desse pão não comeria!

Mas, oh guarida, de repente

surge na minha frente a figura

da esperança querida

que em segredo embalava minha vida

Num abrigo eu me encontrava

aguardando lépida e carinhosa

sem me preocupar com nada

porque a esperança estava perdida.

Mas agora minha alma chora

sedenta e faminta

já esperar tornou-se uma demora

ficar doente tornou-se minha sina.

Tristonha sigo essa jornada

que promete no fim da caminhada

uma casa, um lar, um amor, um ninho.

Cansada águia a sobrevoar

deserto vazio, ao longe encontra

um monte: Enfim uma montanha

pra pousar

Quem espera sempre alcança,

diz ditado popular...

Mas o que não disseram

é que esperar é se arrastar

e é quase como morrer

como náufrago dum deserto...