Sombria Interface

Por que se comunicar através das redes sociais? Só para extrair informações de indivíduos desconhecidos os quais jamais verei na minha frente, ou de amigos com os quais poderia conversar pessoalmente? Enviar e receber mensagens, um amontoado de letras, pontos, vírgulas, símbolos, memes... Arre! Onde está o ser com quem estou me comunicando? Eu não estou questionando a sua localização virtual, que a todo instante é mostrada na tela de contatos. Refiro-me à sua presença viva, diante de mim, sob o escrutínio do meu olhar; refiro-me ao ser cuja presença seja acusada pela projeção de sua sombra através do Sol, ao ser cujo tempo se sintonize ao meu para que o aproveitemos e o percamos juntos.

Que o nosso diálogo não seja um mero cruzamento de dados, mas que as ondas sonoras resultantes da vibração de suas cordas vocais e posterior propagação dos sons (um fenômeno denominado voz) ecoem pelos ares, e atinjam meus ouvidos com sua melodia tão característica e única. Um aperto de mãos - contato fraterno - nenhum teclado de computador será capaz de transmitir. As emoções, memórias, sentimentos, a transferência de energia através do abraço, o amor, o afeto, não são 124 caracteres que irão descrever. A sinceridade e a verdade expressas no olhar, na sua fisionomia, jamais serão reveladas através de sua foto de perfil. O entusiasmo, a intensidade, suas carências, medos, sua alegria, o seu sorriso, estão todos ocultos, sob uma sombria interface, uma matriz de ilusões, e ficção.