A DOR QUE O AMOR SUPLANTA
A jovem donzela
Deu um problema,
Na repentina e inadequada defloração:
Uma semente humana foi implantada,
Naquele útero imaturo.
Inconsequente intimidade...
Os meses depressa passaram
E de repente, como do nada,
Ele desceu como "quiabo"
Quase caiu de cabeça no chão,
De tão liso e rápido que foi.
Mas ela não deu conta...
Teve que ir a luta
E foi pra São Paulo,
Trabalhar de prostituta.
Já que bela era e cor de jambo,
Essa porta se lhe abriu facilmente...
Pelo filho vendeu o corpo
Para garantir-lhe o pão.
Tão sincera, na miséria humana,
Não podia sobrecarregar
Quem dele cuidava: a avó,
que como mãe, muito já sofrera:
(Dezessete gestação: 12 nascidos)
Ah, o que não fazem as mãe pelos filhos?
Mas um dia um certo alguém
Lhe olhou e decidiu:
Não podia perder aquela beleza...
E assumiu a ela e ao filho,
Casando e adotando.
E os levou para outro país.
Foram-se embora, deixando
Saudades e saudades,
Debalde, porque voltar não puderam
E mais um filho fizeram.
Seria um conto de fadas?
Um romance de final feliz?
Não era...
E ela, será que virou de novo meretriz?
Ou aceitou trabalhar na casa das infelizes ricaças?
Não sei ao certo. Só sei que a dor das mães
O amor suplanta.
E derrubada a dor, é esmagada
Por um prazer e uma alegria inexplicável.
Ah, a dor que o amor suplanta, só mesmo se for amor de mãe!
Como assim?
Então eu lhe pergunto:
- Quem sofre tanto pra dar a luz e criar um filho
e mesmo assim o ama no mesmo instante que o vê,
esquecendo-se imediatamente da dor dilacerante?
Porque se não doer pra nascer, vai doer pra criar.
E quanto crescer, vai doer quando voar, e
o ninho vazio deixar.
Nessa hora a dor vai moer, roer, corroer. Mas o amor suplanta...