Dias de Pássaros

Estando próximo de tufos e zoeira de carros, arranha céu, rochedos enjanelados de concreto, estilingues esticados. Postes de eucaliptos secos. Cipós em alta tensão. Ambulâncias, estampidos, hospitais, penitenciárias. A infelicidade faz morada nos respingos de sangue do chumbinho. Lágrimas, desamparo e solidão.

Felizes entre amigos, melhor ainda, em revoadas respeitosas de carinhos. Floresta de alto dossel, matas e campinas verdes, dias de passarinhos. E entre trinados e frutas, assim seguem os voos da liberdade. Regozijo em onda de luz. Amplitude e amplidão. Maravilhosos motes do viver com prazer. Noites e dias consagrados no sertão; longe, bem longe da civilização.

Água pura cristalina. À completude, observando, direcionando e ouvindo atentos os aprendizes, ao lado da única e indizível fêmea amada, sobre bela pedra turmalina!

Solitude

Inspiração é subjetividade momentânea movida por poucos olhos perspicazes; e dando a ela o que é dela por direito, a imaginação passeia pelas fendas abobadadas nos horizontes.

O dia ia saindo de cena calidamente atrás da colina e a tarde chegava como quem não quer nada, com passos lentos espreitando a bruma do baixio; mas tão necessária quanto o pulsar do coração. Subitamente... entardeceu!

Enquanto caminhava pela alameda atapetada, cristais fulgurosos beliscavam indelicadamente a relva verde. Galhos tombados. Estaquei entretido. Folhagens picoteadas rolavam e amontoavam-se nos meus pés. Mirando o ocaso com acuidade, tudo via. Miopia e poesia. Sem definição exata de tempo, assim fiquei um tempo por ali esperando os gelos gasosos se desfazerem em água líquida esparramada.

O que dependesse de minha solitude, os raios de sol dourariam as lágrimas que deixei escapar no alvorecer diurno. Decerto, as efemeridades tem seu devido momento de lazer e fúria. Queima incestuosa de incensos. Ao descrever tudo que passou por minha mente, flores perfumaram os ambientes dos lares. E sabendo que divagações não duram mais que um segundo, foi-se a eternidade.

Era noite velha: hora de dormir coberto pelo véu da realidade. Despertei-me para o novo dia. Hoje será a reprise de ontem...? Por que, certamente, amanhã será uma incógnita tão indefinível, que o mais sábio dos matemáticos jamais conseguirá desvendar.

Coração é peça composta por números soltos e por assim ser, não se prende à exatidão. Corações são sensíveis e devem ser mantidos aquecidos em temperaturas compatíveis com suas fragilidades, manuseados com cuidado, estocados com o "M" em posição original para baixo e jamais congelados. Caso contrário, a qualquer momento, derretem, perecem, falecem, liquefazem.

"Corações ao serem tocados pela dor, explodem desesperados. - Gorjeou o rouxinol. "Faça-o sereno por fora e sorridente por dentro!" - respondeu o sabiá laranjeira.

O silêncio voltara, com ele, caminhamos todos para cama. Estiramos os corpos, puxamos a mansidão da noite até a altura da cabeça, fechamos os olhos, cofiamos a sobrancelha delicadamente e sentindo o respirar dos corações e ouvindo a serenata regida pelos nossos corpos, dormimos perdidos um dentro do outro.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 04/12/2017
Reeditado em 12/12/2017
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