OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO II

Um louco com um pedaço de pau na mão ou discutindo sozinho, um fanático religioso defendendo agressivamente suas crenças, um acadêmico desdenhando de tudo que não esteja em seu domínio, quem nunca os viu? O que eles têm em comum?

Certamente os ditos loucos têm muito a nos ensinar. Se os observarmos, sem preconceitos ou estranhamentos, poderemos ver que eles estão em uma linha comum. O louco, o fanático e alguns acadêmicos podem agredir, “matar”, menosprezar e segregar pessoas. Essas ações e atitudes advêm de um mesmo sentimento: Plena certeza da verdade.

Se fôssemos perguntar aos loucos o porquê de suas ações, eles iriam dizer que agem por estarem certos, os religiosos porque fazem a vontade de Deus, os acadêmico/cientistas porque defendem a ciência e o conhecimento. O dogmatismo se faz presente praticamente em todas as agressões, crimes e violências. Dificilmente alguém age na dúvida. No mundo das truculências o que se faz advém de alguma convicção. Certeza sobre algo é a principal característica dos assim chamados loucos, eles jamais duvidam.

De fato, criamos mundos, realidades em nossas mentes, porque o que é apreendido pelos sentidos é muito direto, objetivo, duro: Fome, frio, calor, doenças, limitações, mortes e etc. O que fazemos então, em nossas mentes, é dar sentidos a essas e outras manifestações, criamos impressões, crenças, e daí forjamos nossa própria realidade, e isso em termos de comunidade e individuo, e são elas, as realidades culturais, muitas vezes, que determinam o que tomamos por verdade ou mentira.

Não há problemas quanto a essas ressignificações, contudo, a loucura, em seus diversos níveis, começa a se manifestar à medida que atribuímos, às nossas verdades, o peso de verdade absoluta. Ai se iniciam as intolerâncias e beligerâncias.

A incapacidade de vermos, a olho nu, o multicolorido aspectos da luz física, em toda sua extensão e profundidade, sinaliza que devemos duvidar da nossa capacidade de conhecermos plenamente qualquer coisa. Se não podemos ver, realmente, algo tão claro como a luz do dia, o que se dirá do metafísico, religioso, filosófico ou científico? A capacidade de termos certezas é, portanto, relativa, porque, quase tudo é uma construção social, factível de inúmeras interpretações.

A constatação, dessa realidade, nos dá sabedoria e equilíbrio para vencermos a loucura de tentar destruir outras“verdades” que são tão “verdadeiras” quanto as nossas. Sejamos relativistas, minimizemos nossas loucuras, vamos olhar e aprender com os lírios do campo,

que hoje são, e amanhã, não.