O Banzeiro
(Samuel da Mata)

As vezes a gente não morre por pouco, mas o que morre em nós mutila-nos a alma pelo resto dos dias.
Quando morre uma ilusão a gangrena é gasosa, ou se amputa logo ou a alma apodrece em vida.
A amputação é triste, mas quase sempre é a única alternativa de sobrevivência ao desencanto.
Já passei por mutilações que não as imaginaria nem mesmo em sonhos, mas nunca se sabe como podem ser reais os pesadelos.
A gente chega a sepultura só uma parte, a maior parte se dilacera no caminho. Entre um desencanto e outro a alma se definha até que morre ressequida em suas próprias mágoas.
Tem dias que o Sol para em Gibeon e a lua triste se estarrece no vale de Ajalon; por ver quão fúteis são os sonhos e quão terriveis são as pedras com que se fazem os muros de desencantos.
A batalha do desencanto termina, mas a vida nunca mais é a mesma. A penumbra da dor enche de tristeza a vida e os ossos secos inundam os vales da memória.
Os versos da tristeza só se declama por dentro e as lágrimas do desencanto se ressecam antes de brotar nos olhos.
Toda palavra é pouca para expressar o abortar dos sonhos e nas recâmeras do silêncio eles se petrificam.
O banzeiro da ganância não conhece limites, carrega e destrói em lama os ninhos de seus próprios filhos.
Quem edifica os prédios de enganos morre soterrado no desabar da sua estultice.
Samuel da Mata
Enviado por Samuel da Mata em 16/03/2017
Código do texto: T5943016
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