A Casa e a Janela
Ontem eu era apenas uma figura estampada na parede da sala, do quarto e da cozinha. Eu era uma tatuagem na fronha e meu travesseiro um giz de cera invisível aos olhos dos outros.
Minha voz era surda e meus olhos cantavam um hino mudo, descolorido e fugaz. Ontem eu era um vaso esquecido no canto do jardim, suplicando terra nova com folhagens de vida.
A casa era feita de escombros e as janelas simplesmente não existiam, a não ser no risca/rabisca do arqui(teto) pendurado num lustre imaginário.
Contudo, eu gostava de ser assim, quase uma folha morta, hirta e só. Mas o tempo era meu e eu o controlava... Hoje ele me controla freneticamente e sem piedade.
Meus músculos de manequim estão todos estirados e estriados pelo cansaço da aurora que suplica um ocaso mesmo que seja somente um simples afago , anunciando a noite que, plácida, me diz:
DESCANSE, PORQUE O AMANHÃ É APENAS UMA ILUSÃO.