A Casa e a Janela

Ontem eu era apenas uma figura estampada na parede da sala, do quarto e da cozinha. Eu era uma tatuagem na fronha e meu travesseiro um giz de cera invisível aos olhos dos outros.

Minha voz era surda e meus olhos cantavam um hino mudo, descolorido e fugaz. Ontem eu era um vaso esquecido no canto do jardim, suplicando terra nova com folhagens de vida.

A casa era feita de escombros e as janelas simplesmente não existiam, a não ser no risca/rabisca do arqui(teto) pendurado num lustre imaginário.

Contudo, eu gostava de ser assim, quase uma folha morta, hirta e só. Mas o tempo era meu e eu o controlava... Hoje ele me controla freneticamente e sem piedade.

Meus músculos de manequim estão todos estirados e estriados pelo cansaço da aurora que suplica um ocaso mesmo que seja somente um simples afago , anunciando a noite que, plácida, me diz:

DESCANSE, PORQUE O AMANHÃ É APENAS UMA ILUSÃO.

Lucinha Oliveira
Enviado por Lucinha Oliveira em 15/01/2017
Código do texto: T5883059
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