NUNCA SOUBEMOS DANÇAR, MAS JÁ DANÇAMOS DE TUDO!
NUNCA SOUBEMOS DANÇAR, MAS JÁ DANÇAMOS DE TUDO!
E o tempo vai arredondando os anos, acrescentando outros, incluindo novos capítulos ao livro da vida, desbotando as velhas lembranças, nos presenteia com novos amores e nos rouba outros de nossas vidas.
Escrevemos a nossa história um tanto mais devagar, agora.
O ritmo frenético do rock in rol, passou pelo romantismo de “detalhes” de Roberto Carlos, bailou algumas vezes em ritmo de bolero e samba que se fingia dançar, apenas pelo prazer de se tocar. E chega aqui, ao som variado dos grandes sucessos de outrora.
Ainda construímos alguns capítulos novos, mas a maioria é um reviver de lembranças.
Comparados os temores, buscamos os temores da juventude e não encontramos, eram moinhos de vento, tais quais os de Dom Quixote, e, no entanto, nos pareciam feras famintas!
Hoje reconhecemos que se resumiam apenas às novidades comuns do dia a dia, apenas nos eram desconhecidos.
O maior medo? Perdermos-nos um do outro.
Ah! Mas esse continua!
Tenho medo de perdê-lo para a vida, para o tempo!
E lá se foram 40 anos de casamento.
E lá se foram 45 anos de convivência amorosa.
Não vou dizer que é quase meio século, pois me sentirei velha para continuar com minhas palavras de amor.
Não me sinto velha!
Quem me faz velha é o espelho.
E eu ainda não li nenhum estudo, para entender como descobriram a sua fidelidade de imagem.
E nem quero. Resta-me o benefício da dúvida.
Eu me faço jovem e velha, no meu dia.
Se tiver você comigo, reescrevendo memórias, ou novos capítulos, se rimos juntos de bobagens lembradas, nos emocionamos às lágrimas por outras lembranças de histórias que escrevemos, ou tantas batalhas vencidas, me mantenho jovem, pois você é minha força.
Seria velha, se não pudesse construir, ou reescrever com você novos capítulos, novas histórias.
É sua alegria que faz a minha.
O seu sorriso que reflete outro em mim.
Aprendi nesses anos tantos, que dia a dia, fomos nos fundindo.
E lá atrás, naqueles abraços apaixonados, pensávamos que nos fundíamos um no outro.
Doce ilusão dos apaixonados!
Fundimo-nos um no outro, dia a dia, nesses 40 anos de convivência diária, nos conhecendo, trilhando uma estrada que nos leva a objetivos comuns. A felicidade um do outro.
Fundimo-nos um, no outro, quando percebemos que realmente, somos um. E que, de verdade, não posso feri-lo, sem ferir a mim mesma.
E é uma ferida que leva tempo a cicatrizar, e nesse tempo não há leveza, não há risos soltos, não há alegria, apenas pesares.
Fundimo-nos no dia a dia, quando o toque já não é ditado pela paixão. Os arrepios não acontecem na pele, mas todos os momentos, em qualquer toque de mão, e até no olhar, e vibra no pensamento, no valor reconhecido, e se aninha no coração agradecido.
Fundimo-nos, dia a dia, ano a ano,
E AQUI ESTAMOS NÓS!
Com mais rugas, olhando o espelho só de relance, sem arriscar, nunca, de perfil, mas olhando, francamente, frente a frente, sem temores, os espelhos dos nossos olhos.
Esse é o espelho da verdade!
Conta mais sobre mim e ti, que o espelho de cristal.
Faz-me mais bela ou mais feia, verdadeiramente!
Houve muitos erros, sim, houve muitos...
Meus e seus...
Muitos aprendizados, também!
Olho para traz e tenho saudade de nós.
Mesmo dos tempos difíceis, não digo das horas difíceis, dos erros, pois se pudesse os apagaria.
Mas dos tempos difíceis, que me traz lembranças dos dribles que demos na vida.
De alguns sorrisos, que pudemos ostentar, vitoriosos da vida.
Formamos uma família de heróis que de batalha em batalha vencemos nossas guerras.
Somos nós.
E estamos, ainda, aqui.
Outras lutas, talvez guerras ainda possam vir.
Talvez mudemos nossas armas, por não conseguirmos mais usarmos as mesmas armaduras e elmos de outrora, mas continuamos na luta.
Mas com certeza, e disso tenho certeza, conseguiremos, ainda, pelos dias que nos rentam, movidos pela alegria de estarmos juntos, aqui, ainda, e vencedores...
Dançar um rock in rol, talvez não com a mesma graça, mas dançaremos!
E, abraçados, fingiremos dançar um bom samba, ou um bolero, como sempre fizemos, alegrando nossa vida, sem nos importarmos se alguém percebia o descompasso de nossos pés.
E daí?
Nossa alegria estava ritmada com o toque dos nossos corações que cantavam outra canção...
Uma canção de amor, como ainda canta agora.
Nunca soubemos dançar, mas ensaiamos e dançamos os compassos e ritmos que a vida sonorizou para nós.
E lá atrás, tínhamos medo do desconhecido, dos moinhos de vento!
Eu te amo!
Vem dançar comigo?
Se você sorrir para mim...
Pouco importa se errar mil vezes o compasso...
E...
Quem sabe agora, nos dias que ainda nos restam, a vida nos deixe dançar, de rostinho assim colado, num compasso um pouco mais lento, um pra lá e um pra cá, em pista mais deslizante, e possamos assim, fundirmo-nos em um abraço, e alcançar a completude da comunhão duradoura de nossos corpos e almas, numa mesma sintonia e vontade de assim ficar?
Irani Martins
24/07/2016