O balanço do Vovô.

Querido Vovô,

Queria te agradecer por tudo o que o sr me ensinou.

Suas palavras de agradecimento e amor

Nos momentos de lucidez e vigor.

Sua auto-estima enaltecida com humor

De quem dizia que nem sempre se cuidou

Mas que valorizava seus momentos sem dor.

As história da juventude que o senhor contava

E Vovó fazendo careta dizia que o sr muito aprontara

Mas que boa parte o sr inventava.

Os seus mimos de quando eu aparecia para te visitar

Que iam desde a laranja que da sua forma o sr ensinava a cortar

Para que de todo o suco pudéssemos aproveitar

Até aos belos desenhos que o senhor esmerava em pintar.

As piadas que mesmo sendo as mesmas você ria e as encenava

Os nomes complexos dos seus irmãos que você cheio de orgulho falava

De Alcebíades à Asclepíades, mesmo no auge da velhice você se lembrava.

E sobre Paulista? A terra que de tanto o sr amava

Repetia as mesmas histórias mas se não estivéssemos atentos o sr resmungava.

Na infância sentava em seu colo e o sr dizia que eu era a boneca de Vô que falava

Fazendo eu me sentir querida a cada sorriso que o sr dava.

Aquele jeitinho só seu de colocar minha franja atrás da orelha porque era assim que o sr gostava

Dizendo que eu não devia esconder a beleza que eu do sr herdara.

Aquele esperar na porta da sala com o levantar da sua cadeira cativa devagar

Sempre fazendo questão de ficar de pé para nos abraçar.

Mesmo já ausente em sua mente, o sr tinha suas formas de se fazer presenciar

Com seu jeito cortês de chamar a gente para o acompanhar no jantar.

E se vinha a pergunta sobre o seu bem-estar

O sr demonstrava a maneira simples de nos valorizar

Com conselhos assim bonitos dados aleatórios na sua sala de estar:

"Tenho uma casa grande, roupa lavada e comida farta a qualquer momento

Tenho até esse negócio moderno para mastigar o meu alimento

Possuo uma família querida que é grande motivo do meu contento

E nas horas vagas converso com Dr Lafayette que na minha saúde sempre está atento

Possuo ainda Vovó Mara que há muito tempo me acompanha na saúde e no adoecimento

E tenho essa beleza própria que repassei para todo o meu rebento

Pois minha querida neta, ouça bem ao seu avô que tem da idade, o discernimento

Não existe felicidade maior que do apreço próprio ter o reconhecimento

Pois se não nos apreciarmos não tem muito para que o outro venha a se afeiçoar com sustento

Pois é dentro da gente que nasce a primeira forma de se amar sem alheamento."

Com essas palavras de Seu Bide sobre o amor

A gente conclui o principal sobre o meu e nosso Vovô:

Como qualquer pessoa ele teve defeitos e qualidades

Mas é do seu abraço forte e com balanço que nós teremos saudades.

Angela MT Melo
Enviado por Angela MT Melo em 15/06/2016
Reeditado em 16/06/2016
Código do texto: T5668283
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