Hoje

Hoje, mudei. Tirei as preocupações da cabeça, todas. Revirei os anseios pelo avesso e enumerei os sonhos mentalmente. Afrouxei os sapatos, os cintos, as presilhas, as fivelas e me soltei sobre a poltrona, pesadamente. As pequenas coisas se tornaram ainda menores, por força de algum fenômeno inexplicável. Foi como se um parênteses tivesse aberto na vida e eu tivesse, por descuido, por acaso, por algum motivo, me enfiado dentro dele. Nada me atingia a não ser uma paz amiga, morna, branda, a me envolver por inteira. Pus as contas pra pagar, os emails que tinha para responder, as revistas que tinha de folhear, os livros que tinha de ler, as roupas que tinha de lavar, entre outras tarefas, de lado. Nada importava! Não atendi ao telefone, nem mesmo à campainha. Parei no tempo e o tempo parou pra mim. À minha frente, eu tinha apenas o papel e a caneta me olhando e indagando quando eu iria começar. Decidida, ou quase, busquei as fantasias mais loucas dentro de mim, as quais queriam rugir e fugir livres. Respirei fundo, relaxei e... comecei a escrever. Agora, não quero mais parar.