Um homem chamado professor

Manhãs que amanhecem antes de clarear. Café queimando a garganta, engolido antes de esfriar. Passos rápidos. Chave esquecida na porta pela pressa. Manchas de caneta nas blusas. Canetas vermelhas de sangue e suor diário. Diários preenchidos na hora do lanche. Lanche engolido no caminho de volta à sala. Voz perdida nos barulhos produzidos na garganta inflamada de uma juventude doente. Fins de semana sem inícios. Semanas sem fins. Férias digeridas nos estômagos de cursos impostos em escolas que mais parecem comércios.

Empresas com lucros. Profissionais sem motivação, desvalorizados...falidos de alma, de crenças, de sonhos...de história.

Fim do dia preso em engarramentos. Garrafas de água que voltam cheias por falta de oportunidades de serem bebidas. Dores musculares que crescem pela ausência de atividade física. Casamentos esquecidos e filhos carentes que contribuirão para a falência do sistema educacional. Mais uma família que deixa a educação do filho sob o domínio da escola. Mais um erro, entre milhões iguais.

Adiamento da viagem de férias. Falta de ânimo no final de semana. Mas o sorriso na sala de aula forçadamente deve ser mantido. Provas corrigidas até o chegar da madrugada. Despertar enfadante antes do sol finalizar seu caminho de ida.

Esse alguém, cuja labuta é estressante e cujo papel é tão singular e importante na sociedade, ganha homenagens hipócritas, mas nunca um salário condizente com seu esforço, nem mesmo um agradecimento sincero. Esse ser perde sua identidade na imensidão de tantos afazeres. O que ele gosta de fazer nas horas vagas? Ele não sabe. Será que ele ainda tem nome próprio? Não! Cobrado para ter um conduta exemplar dentro e fora do trabalho, porém, ironicamente, visto apenas como mais um, dentro da máquina de (des)educar, seu nome próprio foi sugado por um sistema falido que continua a enriquecer às suas custas.

Chefes e colegas o chamam, em meio a tantos iguais a ele, só de professor.

Muitos não querem mais esse nome!

Caio Márcio Rocha Coriolano
Enviado por Caio Márcio Rocha Coriolano em 21/05/2016
Código do texto: T5642676
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