O MEU PAÍS
O que dizer sobre o meu país?
Sem usar subterfúgios, sem pensar ou imaginar, mas dizer simplesmente? Dizer o que é o meu país com todas as palavras que possam dizê-lo?
As letras mortas mandam no meu país!
Mas elas não poderiam dizer o que dizem: mandam e prendem e arrebentam e silenciam...
As letras tortas não podem dizer diretamente, mas dizem que o meu país é podre e pobre e sabe, mas finge que não sabe, o que de fato é!
As letras tortas talvez saibam dizer melhor o meu país!
E estas mesmas letras cambaleantes dizem que o meu país fede e treme e tem febre e geme e é analfabeto funcional, mas se acha o tal!
O meu país tem esgoto, desespero, desgosto, nenhum tempero...
As letras tortas, à sombra das mortas, dizem, quase num sussurro: o meu país é isso, um pouco de tudo! E, por ser tudo, acaba não sendo nada!