O MEU PAÍS

O que dizer sobre o meu país?

Sem usar subterfúgios, sem pensar ou imaginar, mas dizer simplesmente? Dizer o que é o meu país com todas as palavras que possam dizê-lo?

As letras mortas mandam no meu país!

Mas elas não poderiam dizer o que dizem: mandam e prendem e arrebentam e silenciam...

As letras tortas não podem dizer diretamente, mas dizem que o meu país é podre e pobre e sabe, mas finge que não sabe, o que de fato é!

As letras tortas talvez saibam dizer melhor o meu país!

E estas mesmas letras cambaleantes dizem que o meu país fede e treme e tem febre e geme e é analfabeto funcional, mas se acha o tal!

O meu país tem esgoto, desespero, desgosto, nenhum tempero...

As letras tortas, à sombra das mortas, dizem, quase num sussurro: o meu país é isso, um pouco de tudo! E, por ser tudo, acaba não sendo nada!

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 16/05/2016
Reeditado em 17/05/2016
Código do texto: T5637427
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