I.M.V.

“Inexplicável, marcante e visceral.

As três palavras que melhor nos definem, e também o nosso encontro.

E inevitavelmente, as que traduzem essa saudade que sinto de ti.

Apenas sinto. Não importa o que, e como seja. Eu sinto. E sinto demais.

Com uma força além do que eu posso suportar. Além do que eu possa reconhecer. É muito maior que eu.

Se aloja aqui dentro do meu espírito, e não encontra um escape. Fica aqui, batendo de um lado pro outro, subindo e descendo, crescendo e diminuindo, mas nunca cessa.

Já cantei, chorei, falei às paredes, gritei…

Já tentei até escrever… Na vã esperança de traduzir tudo que se passa no interior do meu coração.

Ah… Quanta ilusão!

Nada que eu escreva, destila o veneno que tua ausência deixou.

Nada que eu expresse é capaz de te arrancar de dentro de mim. Porque além de fazer morada, tu se tornastes o melhor capítulo da minha vida.

Nada faz com que as lembranças mais vivas e mais lindas, se desintegrem.

Nenhum artifício ameniza esse sentimento vital.

Nenhum tipo de morte resolve, porque ele se reaviva.

Nenhum tipo de final tem um desfecho apropriado, porque ele recomeça.

E o recomeçar, sinceramente… o recomeçar é lindo.

É divino. Quase sagrado. Quase palpável.

Posso jurar de pés juntos, que me lembro e consigo até sentir o cheiro do seu perfume que usavas naquele dia. Está impregnado em minhas narinas.

Lembro-me da roupa que vestias. Está impresso em minha retina.

Lembro-me do som da tua risada e do ritmo da sua respiração. Virou canção em meus ouvidos.

Lembro-me do nosso beijo pungente e intenso. Ele ainda está em minha boca.

E lembro-me de como o tempo parou naquele instante, e de como não existia mais ninguém ao nosso redor. Tenho isso registrado com muita clareza, em alguma região do meu cérebro, como se estivesse vivendo hoje.

Pois havia uma coisa que regia absolutamente tudo, e apesar de não podermos vê-la, estávamos a sentindo em tudo.

Humildemente a batizamos de “magia”.

A que conduzia dois seres totalmente bêbados de encanto e prazer, entregues um ao outro.

Dois pares de olhos que se perdiam mais e mais, ao mergulharem fundo no olhar um do outro.

Duas almas apenas sendo felizes. Parecia pouco, mas era muito mais.

Dois.

O resultado da soma de um mais um.

E nos fundíamos em Um.

Que é a somatória de duas metades.

A mesma magia que registrava e zelava a cada encontro nosso. Os olhares, as caminhadas, as palavras, as mãos entrelaçadas, os sentidos, os risos, os gestos, o carinho, os abraços e os beijos.

Que imprimia na mente e no coração, cada momento vivido como se fosse o último na Terra.

Que inundava nossas almas de uma leveza nunca antes sentida.

E a beleza maior disso tudo, é que foi absolutamente natural e espontâneo.

Nada foi planejado. Nada foi premeditado, ensaiado.

Nenhum roteiro. Nada foi medido.

Apenas vivido intensamente.

O Sol e a Lua foram testemunhas oculares do que compartilhamos. Das brincadeiras, das canções, dos toques, das coisas que só o olhar pode dizer, e a boca não.

Mesmo a léguas de distância longe um do outro, estávamos mais próximos do que podíamos imaginar.

Podíamos facilmente sentir quando um de nós não estava muito bem.

E com isso, podíamos nos colocar no lugar do outro, e através de algum gesto ou palavra, procurar ajudar no que fosse possível.

Porque acima de qualquer coisa, desejávamos o bem um do outro. A ideia de ver o outro triste era torturante.

Porque a felicidade era o maior anseio de ambos.

Não importava como poderia ser, contanto que se mostrasse como felicidade.

E a felicidade que eu sonhava, se materializou ao viver todo esse tempo ao lado teu.

Não me importava com seus defeitos, suas manias, suas superstições ou qualquer coisa.

Não me importava com as tantas vezes que seus argumentos diretos esmagavam os meus, no intuito de me convencer que tinha razão sobre algo.

Não me importava se não estavas num ótimo estado de espírito, ou de bom humor, ou muito ocupada, ou extremamente irritada ou nervosa.

Não me importava, de verdade, se tínhamos pouco tempo.

O mais importante para mim, era estar ao seu lado, perto ou longe.

De qualquer forma, nossos corações estavam muito próximos.

Felicidade se tornou um lindo castelo construído por suas mãos, em meu território.

Se tornou uma escultura clássica, precisamente moldada por você, em minha sala de estar.

Felicidade se tornou uma colcha quentinha, feita de retalhos do seu coração.

E cobria minha alma em todos os dias e noites, iluminava meu olhar antes retraído, e de meu rosto, irradiava o mais largo e lindo sorriso.

Sorriso esse que se abre, sempre ao te lembrar ou ao te ver. Onde quer que esteja.

O olhar que se perde fitando o céu, mas lá no fundo, está assistindo momentos de nossa história.

A alma me comprime por dentro, marejando meus olhos numa mistura única de alegria e saudades.

E em meus sonhos, você caminha numa trilha de flores, de mãos dadas comigo e nós dois a sorrir.

Eu com a costumeira calma, os ouvidos prontos, as poucas palavras e uma leve distração; Você, observando ao redor, desde o passarinho que canta, a abelha pousando na flor, até a buzina do carro que passa e do que tens de fazer ao chegar em casa.

Eu com um senso de humor leve, e com uma paciência de dar raiva; Você, com a impaciência e ansiedade que definem um lado seu, a inteligência e o argumento certeiro que me incentiva.

Que me leva a extrair o meu melhor.

O melhor que minha alma pode mostrar.

E o que ela mostra é uma verdade intensa e terna, no que quer que eu faça, diga ou pense.

Nesse momento, fecho os meus olhos, respiro e desejo que esses meus sonhos se tornem raios de esperança, lançados pelo arco do tempo em direção ao Universo.

Voltando em minha vida em forma de uma estrela cadente.

Voltando em sua forma.

Inexplicável, marcante e visceral.”

Originalmente publicado em:

https://deixecrescer.wordpress.com/2015/11/16/i-m-v/

Para ouvir esse texto declamado:

https://soundcloud.com/deixecrescer/imv-texto

Deixe Crescer
Enviado por Deixe Crescer em 28/12/2015
Reeditado em 30/12/2015
Código do texto: T5493592
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