Sobre o ofício de amar um pássaro
Amar um pássaro é belo e doloroso na mesma medida. O floreio do voo, as notas agudas do cantar, a plenitude da liberdade de um pássaro têm mais significado quando se ama. Ainda assim, ser de pedra que sou, minhas mãos se querem converter em facas, meus olhos em grilhões, minhas palavras em gaiola, para que meu pássaro não se vá.
Contraditórios os ditames do amor!
“Corte-lhe as asas!”, é o que ele diz. “Aprisione-lhe o voo e o canto, para que sejam só seus!”.
Mas como, como poderia fazê-lo? Negar sua liberdade seria mata-lo!
“Pois mate-o!”, é o que diz o amor.
Contraditórios seus ditames!
Amar um pássaro é belo e doloroso na mesma medida, pois que significa matar ao amor, matar-se todos os dias, para que seu amor construa-se novo. Para que seu pássaro viva.