AH, ANJO...

Uma coisa é o amor que sinto, outra é o que a faça senti-lo.

O milagre dos meus dias foi conhecê-la, pois que dividi o tempo em antes e depois.

A data exata eu nem me lembro, mas a mudança que sofisticou: era eu uma coisa insossa, deixe para lá qualquer imaginação disto.

Direi do amor sem tocar nele.

Afinal, amor é tudo aquilo o que eu sinto.

Por ela.

Como poderei agradecer se ao amor se agradece amando?

Como saberei reconhecer, se o amor que sinto é tanto?

Como farei perceber, se o amor em mim atende pelo nome dela?

Chamam-me por mim e já não mais me reconheço.

Falam em seu nome e o meu coração agita o vento.

As pontas dos meus dedos guardam nova sensibilidade

Em tudo o que encosto apenas sente a textura de sua pele

E sabe o que mais tento? – que a tez tão delicada seja o braço do meu abraço.

E sabe de outra coisa? – o amor me põe na idade dela.

Saberão os deuses se ela crê nisso tudo.

Deuses esses são depostos a cada vez que dá saudade,

E se a distância é a ponta-a-ponta do nosso caminho,

Sou eu feito de saudade,

Então, conto os deuses caindo aos poucos. Um a um.

Mas eles sabem – e como sabem – o que ando aqui sentindo.

Sensação de cicuta. Estou eu entorpecido.

Manifestação primitiva. Sou então um ser matuto.

Ocorre que a sua voz escuto,

Através dos sonhos descampados em que aparece você e me diz:

– ah, anjo...

E me prega na memória das vozes que não mais ouço a sua voz que me chama de anjo,

E na exclusiva sensação um sopro me cola ao pescoço a alça das suas mãos entrelaçadas

Como elas estivessem aqui

Como fôssemos o coala um do outro.

O amor não faz gênero.

O amor se descabe sempre.

O amor chama exclusivo.

O amor tem o seu sorriso.

O amor exibe aquele olhar

O amor exala delicado aroma

O amor guarda a nossa esperança.

O amor eu só descobri quando a conheci. E já não guardo pouca idade. E já havia eu desistido de saber o que é isso. Foi então que renasci. Foi então que você veio.

E inverti o meu desistir.

Cobri-me de risos, passei a andar distraído, tropeço e nem caio, calço e descalço, e se falso eu não caibo.

A única certeza é a de que isso se fez totalidade e me coloca verdadeiro.

Tão verdadeiro e tanto que percebe você: gastei diversas linhas e não soube, ainda assim, declarar com precisão o amor que sinto.

Eu não tenho poesia. Eu não sei surpreender. Jamais fiz algo extraordinário.

Mas lhe devo cada fração dos meus dias tão comuns.

Aliás, eram comuns, até então.

Aí você apareceu.

E você me sorriu. E você me encantou.

Daí adiante tentará você suportar os próximos oitenta anos.

Serão oitenta anos de amor.

Oito décadas de declaração.

Pois, inventou você de fazer cada segundo meu,

Um lugar chamado eternidade.