RESPIRAÇÃO

Respira e respira e transpira e respira e corre e sua e corre e atravessa a rua e afrouxa a gravata e corre e passa pelos carros como uma seta e sua mais e transpira e respira e reclama e chama não chama o guarda o trânsito o calor e a gravata que ainda aperta não a mão certa acerta não acerta o nó o pó sem dó transpira a camisa branca amarela água corpo cansado e respira e transpira e sobe as escadas e passa as catracas e entra na estação do metrô e continua a sua a grana pouca e sua o dia inteiro e gasta o dinheiro e não vê em que gastou mas suou e correu e atravessou e porque atravessou transpirou e respirou e respirou e sentiu outro nó não da gravata ou por culpa da gravata mas a garganta seca e a mão vazia e pé descalço e o corpo nu e o vento entrando na pequena janela mas não adiantou e sentou e levantou e esticou os braços e olhou para cima e clamou e respirou e transpirou e transpirou e respirou e suspirou e caiu a língua seca e caiu os braços duros e caiu e os olhos virados e caiu e imaginou o céu e o mar e os beijos de uma mulher sem rosto e imaginou o corpo solto e mais solto e leve sem braços e sem pernas sem boca e sem nada e não respirou mais...

CAMPISTA CABRAL
Enviado por CAMPISTA CABRAL em 27/07/2015
Reeditado em 27/07/2015
Código do texto: T5325841
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.