PRECIOSIDADE

Sempre pego-me ruminando, afirmando para mim mesmo, porque a maioria dos homens não acreditam que por pior que seja, toda mulher carrega consigo, bem em seu âmago, dentro de uma espécie de porta joia um misterioso segredo; algo dentro da tocabilidade tátil dos dedos e desejos dos olhos, ou vice-versa, intocável; e mesmo que não consiga revelá-lo no decorrer dos longos anos que espero viver, vou morrer afirmando este meu devaneio feminino. Toda mulher tem, impossível não ser verdade!

E por não poder tocá-lo, olha-lo, examiná-lo, pegá-lo na mão, sinto-me impotente e embora não tenha dom para ser cartomante, bruxo, vidente, pai de santo, tarólogo, ou ginecologista para desvendar esse mistério, pressuponho, que deve esconder-se no mais longínquo e inóspito território da mulher. Ponho-me a pensar qual poderia ser o lugar menos habitado da mulher. Certamente o coração que não é!

Diante desta impotência, tenho que humildemente conformar-me, admitir a minha pequenez, um nada, feito pingo d´água nas águas dos oceanos feminino; mergulhando, nadando, tentando, vasculhando à procura desse mistério da joia que deve ser embrulhado em singelos porta joias. Joia esta que, quanto mais em tenra flor e viçosa for, mais atraente e cobiçada por mim, será. Qualquer dia subo no mais alto topo de igreja, bato os sinos e através dos autofalantes, proclamo, berro esta minha lúcida paranoia.

Tal segredo é como pérola escondida pelas ostras e lançadas nas profundezas do mar e com uma voz mandona, irritante e ao mesmo tempo, tenra e sedosa, segredada ouço dizer: "é sua se desvendar o enigma; vem pegar. Vem! Sentes medo de se afogar? O medo mantém a presa longe do predador, é isso que você quer? Então, venha ser contemplado com a minha pérola, com a minha joia. Foi feita sob encomenda e, portanto, perfeita e ajustada para o seu dedo. Toma, venha! Se pegares, és toda, todinha sua”! Como essa visão me importuna!

E eu cego no afã de receber de bom grado o que supostamente pertence a mim, descubro então que foi uma misteriosa e indefinível miragem. Porém, obstinado, resignado sigo nesse oásis desértico entre o encanto e o inusitado feminino. Não tenho pressa. Um dia meus olhos brilharão mais do que o brilho do ouro.

Posso não ter nenhum, mas deleito com os mistérios impossíveis de serem desvendados desse ser que chamam de sexo frágil; e entre as fragilidades, nesse quesito, prefiro a minha de Homem; porque em relação a fragilidade da mulher, fragilizo-me mais do que sou.

Sinto-me um inocente vagalume lunático, vagando à ermo procurando aquilo que não perdi; farejando o cio que incansavelmente me inebria! Insaciavelmente à cada segundo! Demoradamente à cada dia! Até quando...sou Brasuca e não desisto nunca.

Estou no auge dos meus 90 anos e seguindo a dieta caracu com ovo e paçoca, sinto-me mais forte, valente e viril que o rótulo/imagem do garrote que estampa o garrafa. Botando chifre em meio mundo. Uma hora qualquer, mesmo que contenha veneno, faço a degustação da pérola, da joia preciosidade que tanto me tormenta.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 08/07/2015
Reeditado em 08/07/2015
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