O amor mal amado
Um dia ela chegou e disse: “Acabou”. Ele quis morrer e fugir, temporariamente, do anúncio do caos sentimental.
Ela chamou de fim do mundo o seu medo de perdê-la. Chamou de vício o seu modo de lhe querer. Ele preferiu chamar de amor até o fim, ou mesmo, carência exaustiva.
Ela disse: “Estou vivendo uma nova vida e quero que o nosso contato seja breve”. Ele se sentiu como um funcionário demitido antes do fim do mês, tendo contas a pagar.
Ela roubou o seu sorriso. Como um parasita, sugou as suas energias. Ele ficou fraco, teve febre, enquanto ela se fortalecia, ria de um sentimento nobre, de uma verdade sem parentes.
Ela o roubou de seu mundo para depois jogá-lo fora nos subterrâneos esconderijos dos seus fantasmas mais íntimos. Ele quis gritar, mas a voz emudecia, perante a incredulidade da separação. Na obviedade dos fatos, ele lembrou que, um dia, ela lhe ensinou que ter esperanças era algo ruim, que ficar na expectativa não era a melhor postura. Foi aí que concluíu que chegara o momento de reprimir tudo o que sentia.
Então, ele pegou tintas escuras e tingiu de tédio a sua mais profunda poesia. Matou o amor com armas silenciosas. Sentiu-se livre na ignorância dos assassinos, enquanto lá fora uma chuva caía e nada sabia sobre a morte do amor e do poeta que acreditou nas propagandas falsas de um sentimento.
Agora é esperar para que a tinta desbote e volte a brilhar as luzes fortes do amor quando bem amado. Esperar até que o cupido conserte o arco quebrado das flechas pontiagudas que nos matam com doses puras de afetos esquecidos. Esperar... esperar... até que tudo volte a fazer sentido.