O silêncio da noite
Era dessas madrugadas frias em que o vento soprava, deixando seu uivo tanger na silenciosa escuridão.
Dentro do quarto, ruínas de um coração comedido, quiça partido.
O medo se embrenhava no peito, como as sombras na noite.
O pranto já cicatrizado na face, inda pulsava no coração.
Vibrava, gritava alto.
E ela ali sem dormir, sem saber se fechava a janela ou saltava por ela.
Medo da noite, não tinha, era a luz que a assustava. Ver-se limpa, sóbria, sem ruge ou batom. Nada que camuflasse a angústia retida dos tempos.
Não sabia onde tudo começara, ou se começara.
Talvez nascesse com ela, quando tudo fora criado, o senhor dos tempos e dos ventos a recheara de angústia e desconfiança.
Não era frágil, era audaz.
Sorria o sorriso dos loucos, sorria a ânsia de poucos.
Sorria da indeterminação contida em cada verso, em cada traço, em cada pedra. As do caminho do poeta.
Brincava com um cacho do cabelo, respiração pausada e dorida.
Pra que? Porque? Onde tudo isso vai dar?
Perguntas que a lucidez não permitia fazer, mas no íntimo guardava as questões.
Será que toda a opressão camuflada por descuido, era coisa só dela?
Era coisa de toda gente que não pensa, mas consente?
Se encolhe embaixo das cobertas. Por frio ou pra aquecer o medo. Manter bem cativa a angústia.
Pra que ou porque divulgá-la? Ninguém compreenderia, e se compreendessem... talvez se assustassem ou balançariam a cabeça e ora deixe de bobagens, não há nada.
O silêncio da noite entrecortada de ventos uivantes era seu consolo. Não gritava sozinha.