O silêncio da noite

Era dessas madrugadas frias em que o vento soprava, deixando seu uivo tanger na silenciosa escuridão.

Dentro do quarto, ruínas de um coração comedido, quiça partido.

O medo se embrenhava no peito, como as sombras na noite.

O pranto já cicatrizado na face, inda pulsava no coração.

Vibrava, gritava alto.

E ela ali sem dormir, sem saber se fechava a janela ou saltava por ela.

Medo da noite, não tinha, era a luz que a assustava. Ver-se limpa, sóbria, sem ruge ou batom. Nada que camuflasse a angústia retida dos tempos.

Não sabia onde tudo começara, ou se começara.

Talvez nascesse com ela, quando tudo fora criado, o senhor dos tempos e dos ventos a recheara de angústia e desconfiança.

Não era frágil, era audaz.

Sorria o sorriso dos loucos, sorria a ânsia de poucos.

Sorria da indeterminação contida em cada verso, em cada traço, em cada pedra. As do caminho do poeta.

Brincava com um cacho do cabelo, respiração pausada e dorida.

Pra que? Porque? Onde tudo isso vai dar?

Perguntas que a lucidez não permitia fazer, mas no íntimo guardava as questões.

Será que toda a opressão camuflada por descuido, era coisa só dela?

Era coisa de toda gente que não pensa, mas consente?

Se encolhe embaixo das cobertas. Por frio ou pra aquecer o medo. Manter bem cativa a angústia.

Pra que ou porque divulgá-la? Ninguém compreenderia, e se compreendessem... talvez se assustassem ou balançariam a cabeça e ora deixe de bobagens, não há nada.

O silêncio da noite entrecortada de ventos uivantes era seu consolo. Não gritava sozinha.

Fernanda Garoli
Enviado por Fernanda Garoli em 25/03/2015
Reeditado em 25/03/2015
Código do texto: T5182204
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.