Casamento
Eu sou o Sul,
Você é o Norte.
Eu sou o som,
Você é o silêncio.
Eu sou a noite,
Você é o dia.
Eu sou o mar,
Você é o rio.
Eu sou a Lua,
Você é o Sol.
Eu sou o preto,
Você é o branco.
Eu sou o sussurro
Você é o rugido.
Eu sou a brisa,
Você é o temporal.
Eu sou o samba,
Você é a ópera.
Eu sou a ação,
Você é o plano.
Eu sou o sonho,
Você é o desejo.
Falamos línguas diferentes,
viemos de mundos diferentes,
somos diferentes.
Somos opostos... opostos que se completam.
Côncavo e convexo,
café no leite,
poeira no vento.
Espelhos que refletem as imagens distorcidas,
sobrepondo-se.
Pontas contrárias de uma corda que fazem o nó...
apertado.
Somos intrusos em nossas próprias vidas.
Dançamos num ritmo adverso,
pulsamos pelo avêsso,
entrecortamos...
Marcamos o passo impreciso.
Eu fico, você vai...
Eu vou, você fica... e eu vim com você.
Atração dos pólos.
Nos movimentamos na translação e rotação,
que é esse nosso casamento.
E temos frutos,
que nos prendem e se desprendem,
como pedaços de nós dois,
e nos mantém atados e ligados,
até que a morte nos separe
e até que algo mais faça sentido.