Um vivo morto 

A estrada é longa
Os percalços aparecem
Os pés ardem
A distância cresce
Os olhos marejam
Os lábios ressecam
Cabelos desgrenhados
Cabisbaixo segue o homem.
Para trás deixa a poeira
Os gravetos folhas secas
Longe o canto do nhambu
Vergado o mandacaru
Também fica para trás.
Assim era o sertanejo
No tempo dos retirantes
Das alpercatas viajantes
Sob os pés andarilhos
O sol a torrar o cérebro
Os olhos a ver maretas
No rosto só a careta
Da dor por todo o corpo
A alma que carregava
Junto ao corpo tombava
Era só um vivo morto.
 
Rio, 10/07/2014
Feitosa dos Santos