Prosa de uma maré
Os olhos jorraram tantas águas que, naquela terra perdida e arenosa, um barco navegou. Vestiu-se num caminho colorido, em que os tons moviam-se e cessavam, cuja âncora lançou-se sem destino.
Ancorado navegou o barco, flutuante em sonhos instigantes - ventanias e ares alarmantes, em que o rumo achava-se na espreita.
Quando o pé mergulhava afogava-se, no nariz sua ponta desbotava, nos cabelos uma horta rebrotava, no semblante a natação de uma sereia.
Corria o barco, voava o mar e o pé afogado caminhava, e a chuva ressurgia das mil águas, que desciam de encontro com o céu.
Mas enfim, quando a chuva estacionava, no mirante aqueles mares juntos e distintos, o barco apaixonado mergulhava, sem mapa, sem rodeio, puro e ao léu.
Naquele mar havia vida sem muitas rosas, talvez com a junção da turbulência, o medo, a angústia, a impaciência, a um momento de alegria e segurança.
Envolver-se por seus mares e não pela água mais rasa, apaixonar-se, enquanto guia o seu barco, cultivar a emoção em sua horta...
- Nunca é igual um mar novo a cada porta.