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Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 
Ai, palavras, ai, palavras, 
sois de vento, ides no vento, 
no vento que não retorna, 
e, em tão rápida existência, 
tudo se forma e transforma! 

Sois de vento, ides no vento, 
e quedais, com sorte nova! 

Ai, palavras, ai, palavras, 
que estranha potência, a vossa! 

Todo o sentido da vida 
principia à vossa porta; 
o mel do amor cristaliza 
seu perfume em vossa rosa; 
sois o sonho e sois a audácia, 
calúnia, fúria, derrota... 

A liberdade das almas, 
ai! com letras se elabora... 
E dos venenos humanos 
sois a mais fina retorta: 
frágil, frágil como o vidro 
e mais que o aço poderosa! 

Reis, impérios, povos, tempos, 
pelo vosso impulso rodam... 
Detrás de grossas paredes, 
de leve, quem vos desfolha? 
Pareceis de tênue seda, 
sem peso de ação nem de hora... 

- e estais no bico das penas, 
- e estais na tinta que as molha, 
- e estais nas mãos dos juízes, 
- e sois o ferro que arrocha, 
- e sois barco para o exílio, 

- e sois Moçambique e Angola! 

Cecília Meireles (fragmento)

 
Eu? Escrevo porque amo música!