IN-JUSTIFICATIVAS
Gastou o tempo, lento, enferrujado e denso, que se gasta para arrumar tantas justificativas quanto se é capaz de encontrar, desencontrando, revirando, reinventando antigas desculpas.
Gastou o tempo que torna o cabelo grisalho, a pele murcha e a voz rouca, procurando uma causa vazia e teatral para cada nova pergunta. Aliviava sua culpa, e negava o aprendizado, com mais uma dose (e mais uma!) do veneno letal que mata lentamente, sorvendo do copo de sua ignorância.
Encontrou tantas justificativas, que já não sustentava a si mesmo, já não justificava a própria existência. Um emaranhado sem fim de causas e consequências, sem sentido, sem direção, que justificava-se apenas por ser injustificável.
Gastou o tempo lento, enferrujado e denso, que se gasta para arrumar tantas justificativas quanto se é capaz de encontrar, quando tudo que precisava era de um único, valioso, genuíno e poderoso pensamento: admitir-se imperfeito.