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"Escrever é matar as saudades daquilo que não se vai viver."


Engenheiro das letras,
Músico dos números,
Poeta das notas.


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Trecho de "Resposta sem Perguntas"


"Um grito cortou o ar como uma faca afiada, separando daquele antigo mundo a sua nova fatia. Sem saber do espetacular motivo que tinha sido responsável pela sua vida, o brado dividiu, sem culpa, a imensa complexidade das questões das simples respostas. Antes de desaparecer, no exato momento em que as vibrações que provocou no ar se tornaram estáticas, provocou um olhar curioso dos pequeninos animais que também viviam no topo daquela peculiar montanha. Todos esticaram instantaneamente seus pescocinhos peludos na direção do minúsculo casebre amarelo, exceto um velho esquilo, completamente surdo, que não se desviou nem por um instante de seu profundo sono. Um falcão faminto que sobrevoava alguns metros acima observando atentamente sua presa acabou perdendo, junto com sua atenção, seu banquete. Nos segundos que se seguiram ao singular momento nada pode se ouvir. Um silêncio absoluto dominou o ambiente, o que fez o dono da voz pensar que uma surdez repentina o tinha acometido. No exato instante em que o esquilinho ancião inspirou o ar avidamente em busca de oxigênio, sua respiração, amplificado assustadoramente pela ausência de ruídos, fez com que todos os sons abandonassem seu utópico sonho de férias e voltassem às atividades normais.
(...)"

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Trecho de "Quando os Gatos Despertam..."

" (...)
A noite que se instalava, seqüestrando durante a madrugada o brilho das mais suntuosas cores, só fazia contrastar ainda mais a cor do gato, que parecia não se deixar ceder à silenciosa negritude. Nem mesmo a lua, fiel companheira das paixões proibidas, conseguia ignorar a sua beleza. Parecia ter esquecido de iluminar o resto da cidade, que se encontrava às escuras e dedicava toda a sua luz, com um foco concentrado, somente ao gatuno. Não perdia um movimento sequer, como se, no teatro da vida, fosse o gato o ator principal."

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Trecho de "Elóquios e Colóquios"

"Cara Catilinia. Penejo-te esta singela missiva afim de relatar a ti uma curiosíssima poranduba que, de fato, me ocorreu; um apólogo dos infinitos desvãos de nossa mente. Tentarei de toda forma não palrar sobre os subpensamentos, paralelos ou perpendiculares, tangentes ou semotos, que se valem das momentâneas distrações entre o instante da sinapse e o temerário movimento da língua (depois do qual já não é mais possível devolver à boca quaisquer palavras proferidas) para afincar-se à idéia principal, como fazem os pólos negativos ao se darem por conta do pólo positivo. Só desse modo, talvez, eu seja capaz de expô-la com cabal perspicuidade (...)"

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