Ali, onde o tempo perdura...
Finos capins se esvoaçam no ritmo do dançante zéfiro.
O sol doura aquela paisagem bucólica, onde desfilam caprinos saudáveis, dóceis e saltitantes e os homens pastoreiam.
É uma morada daquelas parecidas descidas do céu, citadas no Sagrado Livro como que há muitas lá na casa do Pai.
Uma cadeia de montanhas delimita o lugar a protegê-lo dos excessos das intempéries e até mesmo o isolando dos maléficos efeitos do tempo.
A velhice tem os rostos rosados e os corpos altivos, a juventude tem tarefas que a prolonga: buscar água da límpida fonte, tratar dos animais, colher os alimentos, plantar, cuidar... Do restante se encarrega a própria natura.
Na hora do “Ângelus” fortalece-se o espírito, enquanto a noite cai e se faz linda, num céu aberto e repleto de bênçãos contidas em cada orbe incandescente ou fosco, mas itinerante a vadiar pela abóbada do firmamento. É como um observatório ao ar livre, onde os olhos dos humildes e privilegiados habitantes do lugar têm a capacidade de enxergar além dos arco-íris, além dos horizontes.
Ali é como o centro de uma mesa controlada, onde os Bons Espíritos achegam-se e se põem à disposição daquelas vidas mansas e benévolas. E a casa no alto de uma das ondulações do lugar é o nítido retrato do aconchego, onde o excesso de calor humano exala com a fumaça pela chaminé, único sinal que denuncia vidas ali.
Somente das alturas pode-se perceber tamanha paz... e berros... e gritos... e pulos... e tudo ecoando até as imponentes paredes formadas pela cadeia de montanhas e às vezes vê-se um olhar perdido e agradecido de um corpo agachado a mirar o éter que se sobressai na imensidão daquela divina gravura, tão somente das alturas ou então, nos sonhos apaixonados de seres que creem no amor.
E assim, ali cabe um mundo inteiro...
Ali, corações imersos na simplicidade exilam a soberba, numa tão natural seleção, onde os fortes são trigos e os ambiciosos o joio, que precocemente partem.
Ali preocupações são lobos, ratos e abutres. Ali vivem distantes os homens, mas são irmãos, irmanados nas fúteis dificuldades dos seus cotidianos, pois não ambicionam o que os seus fortes braços não alcançam.
Ali os segundos são eternos e propícios à elevação dos pensamentos. Ali o amor renova-se, evitando-se os efeitos das mesmices e a cada arrebol, a cada crepúsculo, cada estrela, cada luar, cada nuvem tem a existência dinâmica, em metamorfoses cíclicas, dissolvendo em seus tempos, movimentos,formas e matizes a melancólica monotonia.
Ali a cada dia processam-se infinitas informações que a civilização ignora. Ali é um pedaço da Paz prometida e muito perdida pela insensatez e inconsequência da gananciosa e beligerante raça humana.
Ali parece que o tempo se estira e se estende. É ali que, literalmente, Cronos sucumbe com toda sua impiedade e arrogância e sem capacidade de engolir tanta brandura!