Foto: © Fátima Rocha Perini
MONARCA
Longe,
abstrusa.
Voando pela estrada vazia ouvindo “Stand by me”.
Em loop.
Tremo ao sentir os imensos olhos lânguidos caírem,
sem pressa, sobre mim.
Olhar frontal.
Perplexa e em expectativa, encolho-me contra o para-brisa ardente, quase insuportável.
Virei refém.
Coibida de seguir o desígnio inerente do meu ser, inscrito na minha
alma despossuída de vontade.
Estou livre.
Epifania da experiência de liberdade. Escapismo de seguir o sol
que conduz ao meu destino.
Meu futuro.
Desloco-me sem voar, dentro do carro que voa pela estrada vazia
que se perde além do arco-íris.
À deriva.
Ao fazer-me prisioneira ela rompeu o controle, quebrou os grilhões,
me ofereceu o desconhecido.
Sou errante.
Ouvindo “Stand by me” ela parece sem passado nem futuro.
Sem origem. Feita de sonhos e desejos.
Só fruição.
Somos opostos, eu sou a origem, o próprio mapa, programada
a cumprir um destino que não escolhi.
Sem fuga
Sim, é possível que consigamos penetrar no mistério uma
da outra sem desvendá-los.
É melhor.
O carro para. Ela desce e abre a porta do passageiro.
Sabemos que chegou a hora.
Saio voando
Pouso sobre sua mão. Ela me aproxima dos seus imensos
e lânguidos olhos.
Sorri
Permanecemos inertes com o vento balançando tudo em volta.
Olhamo-nos.
É preciso ter coragem no abandono.
Separamo-nos.
Ela acelera
Eu voo