AQUI ME DIZ FAÇO(*)

Só corro, escorro, sou coro, transcorro a tez enrugada de leitos no arauto que sou ao seguir viagem nesta existência chamada «respirar sempre pelo outro», quando sou rio que se evade de uma alma-lágrima-rio-mar ou cascata que se insufla no mais recôndito de quem alguma vez foi mais (do que) dentro de si. Ar de saudade arde no âmago dos carreiros pelos quais renovo o meu rasto de ser e de ser sentido este imenso correr de águas que estou por me parir. Nas pestanas dos teus “eus” sou carícia; nas maças da face dos teus silêncios, desvio; nos lábios dos teus “teus", o serpenteio que passa em meneio. Para a morte em seda, miando, sou «lembrança de uma anterior existência»; para o ósculo no “eu” da tua pele, cossando, «pluma no ventre da aragem»; para o voo por vir, pessoando, um «fingidor», ou destinos-rio metamorfoseando-se em destinos-mar. Mas só quando não sou dentro. Quando sou dentro, sou onda que já foi nascente nos montículos das emoções a que todos somos ventre. Tenho vários nomes, tantos quanto os himeneus das bagas-filhas do mar na vénia das noites e dos dias. Coragem. Medo. Adeus. Saudade. Vida. Morte. Ódio. Perdão. São alguns!, Eu, esse imenso esparramar de lágrimas que se chama muitas coisas, mas em todas elas aqui me diz faço: AMOR.

(*) Adaptado: Celles Leta, prólogo, in Hidropoesia Estética ou Gárgula Autobiográfica, 2012

C C Cossa
Enviado por C C Cossa em 30/01/2014
Reeditado em 15/05/2014
Código do texto: T4670739
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