DE PRIMEIRA

A caixa dos meus sonhos reabriu.

De lá saíram as minhas essências: agora estou de novo, pêlos, cru.

Qual de mim melhor lhe apreça?

Eu embusteado em tudo que sei ou vislumbrar-me ao nada tenho a ver?

Pois bem, de mim saíram as mentiras, portanto, encontro-me desequilibrado para ter com as verdades.

Deixaram-me também os amores frustrados, também os que bem funcionaram, também o amor que inventei.

Perdi as antigas vontades de sempre.

A ideologia me virou assessório, a utopia hoje será um pastel de feira.

Se for pra sonhar, que seja realidade.

Por favor, mão me embauque com o pavor que já perdi.

Agora estou de novo, pêlos, cru.

O que me diz a água que me diz água?

Por favor, duvido estar alguém assim tão natural

Assim desvalido de rumos impostos e desejos que não vigoram

Assim plenamente bípede sem ousadia de rastejar

Assim!

Dar um trago na idade do dia e sorrir por estar no aniversário do dia: quem sabe todo dia?

Crer que o que se sente agora estabelece o plano dos dias

Tira justamente a festa dos dias!

Coloca epifania demais. Resta infinita possibilidade: promessa.

O promitente passa. O inesperado que me tenha nu. O improviso.

Contudo, profunda face me humaniza estar tão despido de humano.

Profunda a boca que silencia a voz dos meus instintos vis, seja nua como estou, seja nua pra mim,

Tire a embriaguez da minha aguardente e coloque a dose irresistível em seu lugar.

Assim estou a tentar ser profundo a tentar ser raso

A ser exórdio a ser intenso,

Assim faremos tudo como se tudo fosse sempre a primeira vez.