O TOPO DA MONTANHA
É uma verdade do universo que ela sempre esteve ali, bem na minha frente e eu jamais a notara, a despeito de seu enorme tamanho.
Mas seu fascínio me atraiu o olhar quando seu topo estava completamente tomado por uma densa névoa. A montanha com seu topo coberto fez meu corpo ser percorrido por um calafrio. A vontade incontrolável de saber o que a névoa escondia tomou conta do meu ser.
Pode-se dizer que sou uma pessoa atraída por mistérios, que mesmo desprovida de espírito aventureiro, adoro descobrir o escondido.
Admito que a coragem de ceder à imensa necessidade de escalar a montanha não me veio de imediato. A tentação era grande, mas eu não sabia se o que eu poderia encontrar dentre as brumas seria especial ou compensador o suficiente para me fazer tomar a inciativa da escalada.
A razão e a impulsividade conflitantes me agoniavam, mas algo dizia que valia a pena e que me arrependeria da fraqueza do não tentar.
Tomei todos os apetrechos necessários, me vesti para a ocasião e lá fui eu, com a cara e a coragem. E por que não dizer com a esperança correndo no sangue como combustível?
A subida foi mais sofrida que prazerosa. Juro que algumas vezes pensei que a montanha se fazia mais lisa de propósito para que tudo ficasse mais difícil, para que eu desistisse.
Metros e mais metros de pura rocha, mas vez ou outra encontrava vegetação macia para acariciar minha pele. O sol escaldante e torturador, vez ou outra dava espaço à chuva fria para tomar conta do meu corpo e refrescar a minha pele.
E foram mais metros e metros, dias e dias, e a crescente agonia de encontrar o céu ou o inferno que fosse.
Chegando ao topo, mal podia respirar, cansada e ao mesmo tempo ansiosa por encontrar qualquer coisa, boa ou ruim, sempre esperando pela boa obviamente.
O que encontrei foi mais surpreendente do que eu poderia imaginar. Tudo o que encontrei foi nada além do intenso vazio. Sem felicidade, sem tristeza. Apenas um gigantesco e mudo nada.
Não restava mais nada a fazer, senão descer e no caminho de volta cheguei a várias conclusões:
Todo mistério perde seu encanto depois de desvendado, independente do que ele revele. O vazio existe e ocupa um enorme espaço. As memórias da subida sempre estarão comigo. Eu sempre sentirei um calafrio quando vir o topo da montanha coberto pela névoa, mesmo sabendo que ela encobre nada mais que o nada. Mas a mais importante é que a minha consciência está tranquila, ninguém, nem mesmo eu poderá dizer que eu não tentei. Eu fui persistente o suficiente, eu fui atrás do que eu queria, eu arrisquei, eu me ralei, paguei pra ver com o sofrimento do meu corpo e a agonia da minha alma.
Eu fui fiel a mim mesma e cheguei ao topo da montanha.
Quantas pessoas podem dizer o mesmo?